As contas e os parlamentares de Cordeirópolis

Posted: | Por Felipe Voigt |
Sempre achei que quando um jornalista político fosse cobrir uma determinada matéria, seria necessário um mínimo de conhecimento sobre os fatos por ele relatados. Alguém que está disposto a escrever sobre política, em especial a área legislativa, precisa ter algum conhecimento sobre os trâmites e afins de uma Câmara Municipal.

A matéria da Gazeta de Limeira de hoje mostra que não houve a apuração legal dos fatos. Enquanto a fonte traz a informação, cabe ao jornalista agregar ao texto dados que confirmem ou não a informação recebida. E, em se tratado de política, é preciso sempre de um respaldo legal. O Jornal de Limeira também trouxe matéria sobre esse assunto...

Eis o que aconteceu: na terça-feira, na sessão ordinária da Câmara de Cordeirópolis, seria votado o parecer das contas de 2002 do ex-prefeito Elias Abraão Saad (PP). O parecer do Tribunal de Contas era pela rejeição e o prazo final para votação venceria justamente nessa semana.

Entre os nove vereadores, cinco são de situação e quatro de oposição, três deles membros da Mesa Diretora: Teresa Peruchi (PSDB), presidenta em exercício, Reginaldo Martins da Silva (PFL), primeiro-secretário, e Giovane Genizelli (PP), segundo-secretário.

Pois bem: na sessão de terça, esses três vereadores faltaram e ainda não se sabe qual o motivo alegado. Pelo Regimento Interno, nesse caso o vereador mais votado entre os presentes acabaria assumindo a presidência. Sobrou para o outro parlamentar de oposição, Rinaldo Dias Ramos (PP), que encerrou a sessão logo que assumiu. Um dos motivos alegados foi a falta do secretário-geral da Câmara, Paulo Tamiazo, para auxiliá-lo nos trabalhos.

Inconformados, os vereadores da base governista Sérgio Balthazar (PT), Fátima Celin (PT), David Bertanha (PPS), Josué Picolini (PT) e Cristiano Guarasemin (PMDB) resolveram reabrir a sessão e votaram pela rejeição das contas do ex-prefeito. Após isso, fizeram um boletim de ocorrência. Só não se sabe baseado em quê!


O que faltou
Primeiro, é preciso explicar o que está acontecendo na Câmara de Cordeirópolis: Teresa só assumiu a presidência pois era vice de Guarasemin, que foi afastado pela Justiça de sua função como presidente enquanto for investigado sobre irregularidades cometidas em sua gestão à frente da presidência desde o ano passado. Já trouxe vários textos aqui sobre isso, os links estão no final do texto.

Além disso, ele começou como aliado político do ex-prefeito e, após assumir a presidência em janeiro do ano passado, rompeu com Saad, inclusive se desfiliando do PP e migrando para o PMDB. Passou a ser, assim, aliado do atual prefeito, Carlos Tamiazo (PPS).

Bom, isso era necessário para explicar um pouco sobre a situação do Legislativo cordeiropolense.

Vamos agora ao que interessa. É facultado aos vereadores a falta em uma sessão sem o prévio aviso. Caso não haja justificativa sobre a ausência em até duas sessões após a falta, será descontado de seu salário essa sessão não-comparecida. Tal atitude já foi tomada por Guarasemin, por exemplo, em algumas sessões após seu afastamento da presidência.

Apesar de ser imoral, o fato é legal. Regimentalmente, não há nada o que se possa fazer contra a decisão dos vereadores em faltar a uma sessão. Assim como também é regimental a decisão de Ramos em em encerrar a sessão. E facultado ao presidente da sessão, independente de quem seja ele, encerrar a sessão antes da hora regimental (4 horas) em caso de tumulto grave, por exemplo. Eu não estava presente no dia para saber a gravidade do tumulto.

Agora, uma vez encerrada a sessão, não há como ela ser reaberta horas mais tarde e funcionar como se fosse uma ordinária comum. Não há amparo legal na decisão dos vereadores da situação em reabrir a sessão e votar as contas de Saad. Mesmo em uma sessão extraordinária, é preciso que haja convocação de todos os vereadores com 24 horas de antecedência.

O máximo que podem fazer é questionar os motivos que levaram Ramos a encerrar a sessão. Mas fazer o que foi feito é o mesmo que brincar de ser vereador. Aliás, fica evidente que todos ali brincam de verear. Enquanto um lado não aceita nada que a administração faz, o outro não enxerga as evidências logo abaixo dos próprios narizes.

A decisão dos vereadores de oposição foi tão errada quanto a dos de situação. O que faltou ser levado em conta, independente do que está em jogo politicamente, é que estão lidando com o erário público. O contribuinte não quer saber desse tipo de picuinha entre parlamentares comandados por antigos e atuais prefeitos. Falta mais ação para combater os problemas sociais e sobra disposição para embates pessoais.

A votação de contas do Executivo sempre será uma decisão política. Por mais que o parecer do TC seja pela rejeição ou aprovação, o plenário deliberará politicamente sobre o caso. Faltou diálogo entre as bancadas para que fossee atingido um consenso. Pede-se isso para se conseguir aquilo. Quid pro quo.

Mas os vereadores entendem errado e transformam tudo em um verdadeiro quiprocó mesmo...


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