Presidentes de Câmaras bem treinados... a gastar!

Posted: | Por Felipe Voigt |
O que motiva uma pessoa a assumir um cargo de prefeito, vereador ou deputado? Todos sabemos que é pelo subsídio mínimo pago aos eleitos. Mas quais são as outras motivações? O que faz esses homens e mulheres abrirem mão de sua privacidade e de seus conceitos em troca de quatro anos de "estabilidade"? Me pergunto isso porque ainda não dá para acreditar que tudo seja em nome do bem-comum, pensando sempre no próximo!

Ontem, o Jornal Nacional trouxe uma
matéria que mostra uma situação, infelizmente, comum nas Câmaras Municipais: o abuso de viagens com dinheiro público por parte dos nobres parlamentares. Mostrou que enquanto alguns vereadores do Sul deveriam estar freqüentando seminários, eles aproveitavam para fazer turismo.

O presidente da Câmara de Cafelândia, Neri José Ferreira (PFL), viajou com o carro oficial. Até aí, nada de anormal, já que o veículo existe com essa finalidade. Mas no momento em que aconteciam as palestras, ele estava na praia, comentando sobre o dinheiro que recebe para viajar a trabalho: "a diária lá tá R$ 500, tá boa”.

Eu recomendo que acesse o
link e assista a reportagem. Não precisa ser cadastrado na Globo.com... mas cuidado: o seu nível de revolta pode ultrapassar os limites seguros. É melhor checar seu plano dee saúde antes!


Semelhanças
Tenho presenciado situação semelhante em Cordeirópolis, cidade vizinha a Limeira. O presidente da Câmara, Cristiano Guarasemim (PDMB) é acusado de mau uso do veículo oficial e de, digamos, viajar demais.

Desde o começo do segundo semestre do ano passado, várias constatações foram feitas de acordo com as prestações de contas do Legislativo. Entre elas, está a de que o presidente da Câmara gastou mais de R$ 15 mil com viagens, entre hospedagem, pedágio e alimentação.

Algumas curiosidades foram constatadas nessas viagens, como a feita a São Paulo no dia 21 de junho, para tratar de “diversos assuntos pertinentes à Câmara”, segundo os documentos apresentados. Acompanhado do assessor jurídico, Carlos Roberto de Oliveira, e do contador da Câmara, Djalma Firmino, o presidente jantou no
Terraço Itália, um dos mais badalados e caros restaurantes da capital. Por volta das 22h, pagou R$ 236,60 por um jantar. O detalhe está que, nesse preço, estava incluso o couvert dançante de R$ 90. Ou seja, R$ 30 por pessoa. No total, essa viagem custou R$ 438,34. Clique aqui para ver o cupom fiscal.

Há também as idas à cidade de Curitiba, onde foram gastos cerca de R$ 5 mil somente em viagens para esse município. Entre elas, destaca-se a feita pelos três (presidente, advogado e contador) para um congresso realizado entre os dias 28 e 31 de junho. Nesse dia, o custo ficou em R$ 1.800. O detalhe particular está na exigência de Guarasemim: dois quartos separados, com duas camas em cada um, apesar de estarem em três


Gasolina
O levantamento feito nas prestações de contas do presidente da Câmara mostrou que entre janeiro e setembro de 2005, houve um consumo de cerca de 2.500 litros de gasolina no carro oficial do Legislativo. Porém, a análise não levou em conta os gastos de combustível no carro particular do presidente, quando em missão oficial.

Segundo o requerimento dos vereadores Giovane Genizelli (PP) e Josué Picolini (PT), o carro foi usado somente por Guarasemim desde o começo do ano. A exceção foi uma única vez que o vereador David Bertanha (PPS) precisou usar o veículo.

Levando em consideração que um carro popular consome um litro a cada 12 quilômetros, com a quantidade de combustível usada, daria para rodar cerca de 30 mil quilômetros. Seria o equivalente a 3.750 viagens até Limeira, cidade a 8 km de Cordeirópolis. Em um ano, daria pra se fazer esse percurso ida e volta cinco vezes por dia, totalizando 10 viagens diárias.

Com relação ao custo, com um preço médio de R$ 2,30 por litro, a Câmara acabou pagando R$ 5.750,00 somente com combustível. Mas, ao calcular o custo de manutenção do veículo e o desgaste causado pelas viagens e os gastos com o carro particular do presidente, a cifra ultrapassa os R$ 7 mil. Uma Comissão Especial de Inquérito foi aberta para apurar as denúncias apresentadas.


Pizza a um centavo
A nota mais curiosa publicada na TRIBUNA é sobre uma viagem feita entre os dias 18 e 21 de maio. Guarasemim, que também é professor, participou de um congresso em São Paulo como representante do Legislativo de Cordeirópolis. A 15ª edição do Congresso Pitágoras 2005 foi destinado a professores das redes pública e privada e foi realizado entre os dias 19 e 20 de maio, no Teatro Alfa, em São Paulo. Os temas abordados tinham como objetivo trazer para a pauta dos educadores a diversidade humana e uma reflexão sobre formas de abordá-la em sala de aula. Estranhamente, nada relacionado aos assuntos parlamentares.

Segundo a prestação de contas, Guarasemim saiu de Cordeirópolis no dia 18, por volta das 21h. Ao parar no restaurante Lago Azul, na Rodovia dos Bandeirantes, entre outras coisas, comprou um maço de cigarros da marca Hilton. Detalhe: Guarasemim não é fumante, mas a conta foi paga pela Câmara.

Ao chegar em São Paulo, o presidente se hospedou no hotel San Gabriel, na famosa Rua Augusta. Pagou do bolso R$339 de hospedagem para os quatro dias e foi reembolsado pela Câmara. Foi emitida pela empresa responsável pelo hotel um boleto bancário, com vencimento no dia 14 de junho. Porém, foi pago somente dois dias depois, tendo como multa R$ 6,78. O valor também foi ressarcido ao presidente.

No dia 19 de maio, primeiro dia do congresso, Guarasemim jantou no restaurante Viena por volta das 22h. Ao todo, gastou R$ 158,06. No cupom fiscal, consta que foram pagos sete buffets de salada, a um preço individual de R$ 17,50 e seis pedaços de pizza por R$ 0,06 (veja ao lado). Ou seja, um centavo cada pedaço. Além disso, há o consumo de sete refrigerantes, dois sucos e duas águas. No empenho da prestação de contas, o presidente garante que estava sozinho. Clique aqui para ver o cupom fiscal.

O presidente me garantiu que ganhou a inscrição ao congresso e que foi em seu carro particular, já que o da Câmara estava em manutenção. E fez questão de frisar que estava sozinho nesse dia. “Apenas dei uma carona ao contador da Câmara, que estava indo tratar de diversos assuntos em São Paulo. Mas não levei ninguém nem paguei nada para qualquer pessoa com dinheiro da Câmara”, afirmou.

Sobre os gastos no restaurante, disse que houve um acerto no caixa, para que fosse paga a gorjeta do garçom, já que isso não poderia ser feito com dinheiro da Câmara. “Ela acabou acrescentando alguns itens para que estivesse incluso no valor os 10% do garçom. Por isso a pizza saiu por um centavo”, garante. Sobre os sete buffets de salada pagos na nota, o vereador garantiu que acabou acontecendo a mesma coisa.

Em relação a compra de um maço de cigarros no Lago Azul, afirmou que comprou na viagem de ida para São Paulo para o contador da Câmara. “Como ele estava indo comigo, não vi problema em comprar para o funcionário da Câmara”. E faz questão de ressaltar que “como presidente, posso me hospedar e comer em qualquer lugar, desde que esteja em missão do interessa da Câmara”.


Opinião
Acho difícil que, com tantas evidências, acreditar que ainda exista pessoas que se candidatem a um cargo eletivo simplemente pensando em melhorar a vida dos cidadãos. Não dá para continuar bancando esses políticos, que sequer aceitam ser questionados sobre os gastos que realizam. Talvez tenham se esquecido, mas são nossos funcionários, trabalham para nós.

Desde que a TRIBUNA começou a divulgar a prestação de contas de Guarasemim, sua atitude comigo mudou completamente. Me recebe apenas na ironia e desdenha dos fatos apresentados. Coincidentemente, desde que o caso se tornou público, o carro da Câmara não tem sido mais visto com o presidente, sequer estacionado em frente ao Legislativo. E suas aparições públicas também diminuiram consideravelmente.

Há ainda a eterna ameaça do processo. Já soube que Guarasemim está empenhado em processar a mim, ao jornal e aos vereadores que me repassaram as informações da prestação de contas. Mas se são documentos públicos e não-sigilosos, baseado em que será usado esse expediente?

E pensar que ainda ousei acreditar nessa raça um dia! O pior de tudo é que não consigo me ver livre disso. Quanto mais podre, mais eu gosto.

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