Eu não sou uma máquina. Mas muitos parecem me ver assim. Quase
como se, num apertar de botão, eu começasse a revelar as verdades ocultas, os
pensamentos renegados, os sentimentos abafados, as vozes emudecidas.
Mas eu falho. Não sou uma caixa registradora da essência
humana, mesmo sabendo que por muito tempo quis me pôr assim e hoje colho as
consequências disso. Não tenho ambições além das que sempre deixei claras e
falhei na busca por elas. Ocultei ao me expor, reneguei ao sentir, abafei ao
tentar gritar.
Nessa busca insana e desenfreada pela exposição não
minha, mas da natureza humana – ao menos dos humanos que buscam me cercar –,
acabei ouvindo mentiras escusas camufladas de verdades absolutas; provei o
gosto da dor alheia, da mais profunda miséria da solidão e da autoflagelação. E,
de alguma forma, me esqueci de deixar as migalhas pelo caminho. Ou talvez eu
apenas tenha conseguido acender uma vela no canto escuro onde, em vão, tentava
me refugiar.
O que me resta, ironicamente, é uma profunda descrença
nas relações humanas, perpetuadas por inconvenientes convenções sociais,
estipuladas e baseadas em deficientes modelos de cultura e caráter consensual. E seguir, promovendo catarses e resgatando referências e destruindo conceitos. Ao menos assim pensei que seria...
Porque não sou a porra de uma máquina... falho pra
caralho... mas ainda assim acerto mais do que esperava acertar. E isso fez de
mim um monstro cheio de certezas e absolutismo barato. Que busca na compreensão
da dor uma busca insensata por respostas que não me trazem solução alguma. Mas
que, ainda assim, acabarão úteis para quem suporta-las.
Os que mais se aproximaram, acabaram se afastando,
ofuscados e queimados.
É a lógica irracional da minha vida.
E acho que já até devo ter escrito essas mesmas coisas
antes. Enfim...
2 comentários:
Muito poético... Vejo que não sou só eu que tenho a necessidade de escrever algo, sem que eu acredite alguém vá ler... Ou sem que eu queria que alguém leia... Há vezes em que escrevo me e-mails, sabendo que esses nunca serão lidos... e então, me surpreendo quando, por um acaso inoportuno, alguém lê...
Um texto seu, para você, para os outros. Bonito, viu? Beijo.
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