Todo mundo já ouviu isso ou repetiu para alguém: não se
pode jogar sua felicidade nas mãos de outro. Que tamanha responsabilidade
apenas trará desgaste em ambos os lados. E que só podemos confiar a nós nossa
própria capacidade de ser feliz.
Concordo em termos.
De fato, ninguém pode viver de jogar todo seu bem-estar
nas costas de outra pessoa, como se isso fosse o único motivo de riso e alívio.
E todos fazemos isso alguma vez na vida, principalmente quando a carência e o
cansaço bate tão forte à porta que só nos resta sucumbir ao erro da projeção. E
o preço a ser pago é bem alto aos envolvidos, acredite.
Mas há exceções. E são elas que aperfeiçoam nosso
crescimento e estabilidade emocional. E não há muito o que a outra pessoa possa
fazer além de apenas existir e deixar coexistir. E não é que cause dependência:
apenas gostamos da sensação causada por aquele ser específico. É como se nos tornássemos
melhor ao lado desse alguém, gostamos do que nos transformamos ao seu lado e
sentimos falta desse nosso eu quando a outra pessoa se ausenta.
Veja o caso clássico das mães: é quase unânime ouvir que
só descobriram a razão da vida apenas após o nascimento dos filhos. Que
trouxeram uma carga de alegria e impulso que não tinham antes, mesmo que se
considerassem felizes antes dos filhos. Assim acontece com outros casos, em
intensidades diferentes. Algumas pessoas são capazes de nos trazer sensações
específicas, coisas que outras não são capazes de proporcionar. Um amigo, um
parente, um amor, um filho... cada um é capaz de causar em você algo que outros
não conseguirão. Então qual o problema em querer buscar momentos felizes com
essa pessoa específica?
O problema é que às vezes os lados perdem a mão e
exageram na expectativa, tanto na gerada quanto na recebida. Isso assusta,
causa dúvidas, gera desgaste e pode anuviar a mente e a emoção por períodos
conflitantes. A solução para isso? O diálogo. Franco, aberto, sem deixar nada
escondido, expondo intenções, necessidades, falhas e propostas de melhoria. Relações
interpessoais são contratos não verbais e precisam de constantes ajustes nos
artigos.
Precisar de alguém não é falhar. Precisar de alguém não
anula a individualidade e autonomia. É apenas a garantia de anular o medo da
solidão, essa sensação aterradora que nos aborda nas esquinas dos pensamentos
vazios. Precisar de alguém pode e deve fortalecer nosso caráter individual, já
que um olhar de fora sempre é capaz de nos fazer enxergar coisas que tanto
relutamos em ver.
Agora veja a ironia: logo eu, tão avesso ao mundo e às
pessoas, me pego concordando com Tom Jobim... É realmente impossível ser
feliz sozinho.
3 comentários:
Quando eu era adolescente, sempre achei que só seria feliz se tivesse "aquele" namorado, depois me casei, perdi meus pais, me separei e tive que me virar sozinha pra tudo: casa, carro, problemas com prefeitura... Conclui que preciso ser independente, que não posso colocar a responsabilidade da minha felicidade nas mãos de ninguém a não ser as minhas próprias, mas confesso que faz falta! Não passar essa responsabilidade, mas compartilhá-la! É tão bom ter com quem contar!
Obrigada, Felipe! Vc me fez pensar... Bjinhos! ;-)
Gosto muito dos seus textos Felipe, é uma delícia compartilhar com outro, ma eu me sinto muito feliz também sozinha; que me desculpe o poeta rs.
Perfeito!
Como dói a solidão!
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