À direita no final do corredor

Posted: | Por Felipe Voigt | Marcadores:

- Ele sempre fala a verdade, por mais que doa.

Assim uma amiga se referiu a mim essa semana. E é basicamente assim que todos me veem: como alguém que não ameniza muito as palavras ao se referir a outras pessoas, principalmente os que te cercam.

Confesso que isso me cansa.

Não é muito bacana ser sempre visto assim, por mais que eu tenha passado a vida toda criando esse caráter e fazendo com que as pessoas ao meu redor se acostumem a isso. Mas na verdade nunca se acostumam.

Já cansei de ver pessoas me procurando, pessoas que não conheço, e dizendo: vai, me manda a real, estou pronta pra paulada. Por conta do blog que criei, isso acontece diariamente e com um peso do caralho. E como não tenho conseguido nos últimos meses atualizá-lo com a mesma frequência que gostaria, isso parece cansar ainda mais. E não consigo mais responder da forma como respondia. Pelo menos não agora. E isso me causa múltiplos questionamentos. Eu preciso de espaço, mas não posso virar as costas para o que comecei.

Parece que há uma tendência ao isolamento causado pelo medo de encarar a verdade da vida. Muitos estão posando de felizes e realizados nas redes sociais, mas tudo não passa de uma máscara construída para ser uma trincheira. Abrigos são bons, são necessários, mas viver sob esse abrigo a partir do medo e da mentira é dos principais problemas modernos.

Eu costumo me isolar do mundo quase todo dia. Não por medo de encarar minha vida, mas talvez por encarar demais a vida dos que me procuram para isso. Querem que eu faça aquilo que não conseguem fazer. E às vezes até consigo.

Cada dia mais tenho menos vontade de conhecer pessoas, de interagir com suas redes de mentiras e suas verdades camufladas. Aprendi a decifrar pessoas com uma facilidade estranha e isso tira toda a magia de desvendar aos poucos cada ser humano. Em uma frase, em um conceito, em uma postura já é possível elencar traços da personalidade e do caráter de cada um que tenho acesso. E em pouco tempo a pessoa me cansa simplesmente por não ser interessante mais.

Já briguei com várias pessoas por causa daquilo que acreditam. Briguei por não concordar e por não serem capazes de defender seu próprio conceito, sua própria crença. Apenas ecoam aquilo que lhes é enfiado mastigado garganta abaixo e reverberam como sendo a verdade absoluta. Não, não é! Há muita gente precisando de tapa na cara pra acordar e não consigo não ser aquele a desferi-lo. Esse é meu grande defeito, aquele que chega a anular minhas parcas virtudes. Eu sei da pessoa insuportável que posso me transformar e a frequência com que ela se apresenta.

Talvez por isso tenha me fechado. Por faltar a graça da descoberta constante e por cansar-me sempre do resultado disso. Talvez por isso eu tenha selecionado meia dúzia de pessoas para conviver, justamente por serem as exceções desta minha regra. São aqueles nos quais que me permito relaxar, sorrir, desfranzir o cenho, me revelar e deixar um pouco de lado a análise de tudo o que fazem e dizem e pensam. E mesmo assim, mesmo amenizando o que sou, eles sentem o peso. Sentem porque é chato, é cansativo, é triste às vezes ter alguém sempre expondo para você aquilo que você já sabe mas ou tem medo de ver ou optou por entrincheirar por ora.

Houve quem conseguisse me desarmar. E o fez com uma facilidade assustadora, tanto para mim quanto para ela. Esse desarme é tão nítido que me sinto quase indefeso por conta disso. Dá medo alguém transpor assim as barreiras e meus corredores. Porque é um caminho só de ida. Caso opte por voltar, não terá como fazê-lo sem precisar quebrar tudo para sair. E ao sair, deixará os escombros para trás. Mas caso fique, terá sempre a sensação de haver novos corredores a explorar. Mesmo para quem está dentro, ainda sou um mistério. Pelo menos é assim que a pessoa sente.

Mas se da vida o que levamos são apenas os momentos, posso dizer que neste momento estou bem próximo do que considero estar bem. Com medo, apreensivo, na expectativa de voltar a respirar. Mas conseguindo segurar e me segurar. 

Por isso não escrevo nada há muito tempo. 
Porque não sei escrever quando estou bem. E quando escrevo, sai isso. Ou seja...


1 comentários:

  1. Evelyn Paparelli disse...
  2. A sua verdade incomoda muito gente ao mesmo tempo que atrai muita gente.
    Eu mesma me atrai por sua cara limpa e jeito verdadeiro de falar o que pensa, de quem pensa e na hora que pensa. Talvez por querer ser assim e nao conseguir, nao poder.
    A imagem de felicidade do tipo "propaganda da Doriana" que as pessoas tentam passar nas redes socias é na verdade uma fulga, por que tenho certeza que em 4 paredes, com as luzes apagadas e a cabeça no travesseiro a verdade, a realidade, pesam.
    Por isso gosto de ler a sua verdade, seja seu momento bom ou ruim, pelo menos ele é verdadeiro!

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