Você tem uma taça com o mais limpo e fino cristal. Nele,
guarda a mais pura e translúcida água que já bebeu. Essa água mata tua sede
como nenhuma outra, de uma forma que o faz querer beber apenas dela e tão
somente ela.
Ao longo dos dias, pequenas gotas de óleo se formam ao
redor, ameaçando cair na taça. Caso caiam, apesar de não se misturarem ao
líquido que tanto tenta preservar, você sabe que comprometerá a pureza dele.
Mesmo que por mais inofensiva que seja, qualquer uma dessas pequenas gotas
poderá transformar sua água em algo comum, daquelas que se encontra em qualquer
torneira por aí. Com todo medo e cuidado, você zela pela taça e seu conteúdo.
Mesmo que consiga preservá-la por muito tempo,
eventualmente uma gota cai. E você corre tentando salvar a integridade do que
sempre matou tua sede. Apesar de não ter afundado tanto, aquela inofensiva gota
está ali, boiando em sua taça. Numa tentativa de tirá-la, poderá agravar o
problema e comprometer ainda mais o que tenta preservar.
Talvez a melhor maneira seja retirá-la com cuidado,
usando uma colher, sem que a pequena gota, mesmo que inofensiva, estrague a
pureza da tua água. É preciso cooperação daquele que a retira e daquela que a
deixa ser retirada. Há ainda quem tente usar um pouco de detergente, mas isso
irá piorar ainda mais, deixando o óleo cada vez mais intrínseco na água.
Essa água é sua relação; as gotas, as pequenas mentiras
do dia a dia; a colher, a paciência e atenção de uma boa conversa; o
detergente, o ciúme.
Por mais que estejamos todos suscetíveis a pequenas
mentiras ao longo de nossa relação com outra pessoa, é preciso entender que
eventualmente uma ou outra cairá na sua taça. A diferença está em deixar claro
que a gota caiu e que há vontade mútua de retirá-la. Ambos precisam ter
paciência no uso da conversa para que possam voltar a deixar essa água com o
mesmo gosto de antes, matando a mesma sede de sempre.
Taça e colher precisam trabalhar mutuamente para que essa
pequena gota não comprometa toda aquela água que tanto sentem falta. E tentar
deixar o detergente de lado, pois se o ciúme começar a camuflar as gostas que
caem, todo o resto será em vão.
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