Uma em cada seis mil pessoas ultrapassa os 100 anos. Foi
o que acabei de ler em uma revista antiga que tenho aqui em casa, daquelas que
você pega emprestado nos consultórios da vida e sempre se esquece de devolver.
Fazendo uma conta rápida: moro em uma cidade de 300 mil
habitantes, logo, estatisticamente, é possível afirmar que 50 deles chegarão ao
centenário. Pode ser o que nasceu hoje ou aquele que completou 90 anos ontem.
Não importa: o fato é que, caso eu chegue a essa marca, fatalmente chegarei
sozinho.
Não conheço seis mil pessoas. Não conheço sequer metade destes
prováveis 50 futuros anciões. Das pessoas que faço questão de estarem comigo,
metade chegarão aos 100 antes de mim, caso o façam. Das que poderão chegar
junto comigo, não completam os dedos de uma mão. Mas isso também não importa,
pois não chegarei a tanto. Me contento em chegar na metade com um pouco de
consistência hepática e renal.
E qual a razão disso em um texto? Nenhuma.
Apenas pra reforçar que tenho cada dia menos gostado de
me aproximar de pessoas. Aliado ao fato de que a tendência é cada dia mais eu
me recolher longe disso que tanto me incomoda, a equação acima se torna
previsível se vista do meu ponto de vista.
Não tenho conseguido mais gostar de gente. Antes eu
tolerava mais, me empenhava em descobrir as incoerências, as contradições, os
preconceitos velados e a maneira como abafam isso por conta da eterna aparência
conivente e conveniente. Mas me cansei disso também.
Parece que ao se estabelecer padrões onde todos se
encaixam de alguma forma, perdi a essência da curiosidade. Não é mais chocante
alguns comportamentos pois são previsíveis. E quando você os projeta da pior
maneira possível, quando algo mesmo que menor acontece, você estava preparado
de alguma forma para aquilo. E deixa de ter o fator surpresa, a novidade, o supetão.
Há dias em que sequer abro a boca, minha comunicação se
resume aos meios virtuais. Quase não uso mais telefone para fazer chamadas,
apenas para trocar mensagens com uma ou duas pessoas. Quando saio de casa,
frequento os mesmos lugares e falo com as mesmas pessoas, o que me dá uma
comodidade de saber o que irá me irritar e o que irá me confortar.
Além do bar do meu pai, vou apenas a outros dois bares.
pois já conheço os donos e os garçons. Me conhecem, sabem do meu jeito e isso
me evita desgaste por causar incômodo àqueles novos que se incomodam com meu
jeito. E realmente não ando com saco para lidar com mágoa de pessoas
recém-descobertas. As expectativas delas são sempre muito grandes e de alguma
forma eu sempre consigo quebrá-las. Não que eu me importe, mas é sempre um
desgaste desnecessário.
Quando ando pelas ruas, me sinto completamente à parte.
Seja no mercado, no banco, nas ruas ou mesmo nos bares. Me olham como se eu
fosse algo diferente, alguém que não deveria estar ali, que destoa do seu velho
estilo arcaico de vida. Não me moldei a maioria das convenções sociais, não
deixei que costumes e preconceitos ditassem meu modo de agir e pensar. E isso é
uma afronta a eles. E a maneira como vivem afronta a mim também.
Ainda assim: qual a razão disso tudo em um papel?
De novo: nenhuma. Talvez devesse parar de ler revistas antigas
emprestadas. Ou devesse ter ido tomar banho depois de lê-la. Estranhamente, o
chuveiro sempre lava embora meus textos, coisa que deveria ter feito com esse
também.
1 comentários:
É... E eu que pensava que era só comigo.
"Vesti" seu texto, seja isso bom ou ruim.
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