Um dia como qualquer outro

Posted: | Por Felipe Voigt | Marcadores:
Depois de namorar seguidamente desde os 17 anos (tive três namoradas nesse período) me vejo hoje - quando todos elevam os parceiros esquecidos durante todo o ano, onde juras são trocadas e desfeitas com o virar do relógio, onde a troca existe apenas pela convenção de uma data - em meu primeiro Dia dos Namorados "oficialmente" solteiro... , 

E nunca me senti tão bem acompanhado!

Clichês serão usados e abusados no dia de hoje para fechar com chave de ouro as tentativas de dar a volta por cima depois de deixar a desejar o ano todo... (Sacou? Não? Foda-se...). Mas clichês nada mais são que a rotina segura do comportamento. É o certo, aquilo que de tão batido, tão desvirtuado, vira comum... é prático e não exige esforço de sentimento ou postura. 

Mas nem tudo o que é comum é natural. A naturalidade permite, inclusive, a prática dos clichês sem que soem assim, simplesmente por ser tão natural e inerente em quem prática. Quem dá um beijo e liga frequentemente para sua mãe, por exemplo, fatalmente fará o mesmo no Dia das Mães. Fará pela data, sim, mas não por ser clichê: fará porque está habituado a isso e justamente naquela data se manterá coerente. 

Por que não fazer o mesmo no Dia dos Namorados? Desde que não seja apenas nesse dia, tudo bem... Não vejo problemas em declarações serem feitas, em presentes serem trocados, juras eternizadas e momentos compartilhados. Se isso foi feito ontem e for também amanhã, hoje será apenas mais um dia. Não mudará nada... O "bom dia, amor" de ontem apenas será trocado por um "bom dia, namorado" hoje. A beleza do sentimento disso é sentida independente da data. 

O Dia dos Namorados não deve ser o enredo de um romance: pode funcionar, apenas, como um breve trailer do que ambos protagonizam à sós, longe dos holofotes do Youtube, das lentes do Twitter, do picadeiro do Facebook. O romance que precisa de plateia acaba quando as cortinas se fecham e apenas os dois estão na coxia, desmotivados em continuar a encenar a mesma tragédia como peça. 

Romance acontece no carro em uma música tocada e ouvida na companhia do silêncio de ambos, identificando e sentindo e se vendo no que canção diz; é o toque das mãos ao se deitarem sem a intenção sexual; um olhar de apoio sem que seja complacente; um beijo roubado após a saída do banho; um abraço engatado ao se levantar do sofá para ir buscar uma água ou fumar um cigarro... Ou ainda se preocupar com o bem-estar do seu parceiro ao longo do dia; saber como estão suas coisas e quais problemas ele tem e como pode tentar resolver; a parceria que faz abdicar sem se anular, a dedicação misturada com devoção apenas para garantir, ao menos, um sorriso naquele rosto todos os dias, mesmo que não o dia todo.

Isso tudo deveria ser frequente e não somente forçado hoje. 
Porque nem tudo o que é comum é natural...

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