Não é isso o que estamos sempre buscando? Compreender o
amor vivido, sentir o amor recebido, aprender a como viver sem o amor preterido,
aprender a viver com o amor chegado, renegar o amor projetado, pleitear o amor
impossível, esquecer um amor almejado, querer de volta um amor já amado?
Esqueça aqueles que não sabem viver para morrer de amor.
Eles não nos entendem. A eles estão reservadas as superfícies dos sentimentos.
Mas nós, que nos afogamos em busca de algo que nos faça sentir a leveza de
respirar alguém, vivemos para isso: para amar, para morrer de amor e não querer
matar ninguém com isso. Os outros apenas não sabem. E como são infelizes em
suas felicidades os coitados que desconhecem o quão gostoso é viver assim.
Queremos a personificação daquela pessoa que passamos a
vida imaginando, onde tentamos repetidas vezes encaixar qualquer outro alguém
ali e apenas quebramos nossos conceitos, remodelamos nossos padrões e sempre
faltava algo que encaixasse. Como numa culinária adaptada, aceitamos o que
estávamos cozinhando, deixando a fôrma de lado e comendo aquilo que não saciava
a fome nem nutria a alma. Mas faltava o tempero da exceção, a cobertura do que
é tão óbvio internamente mas que ninguém sabia como decorar.
Cada nova paixão era uma fornada a mais e uma fome a
menos.
Mas faltava algo, sempre faltou, não? E mesmo assim, nos
sentávamos nas mesmas mesas que os outros, pedíamos o mesmo cardápio e
sorriamos mesmo quando a vontade era sair gritando desse restaurante que a vida
nos abriu. Jogar fora os velhos talheres, puxar a mesa e rasgar a toalha
certinha e padronizada. O que queríamos mesmo era um balcão e uma cerveja pra
acompanhar qualquer petisco incerto que saciasse aquela fome que nunca se saciava.
Hoje parece aumentar o número de saciados. Os que se
levantam satisfeitos pela manhã e se contentam com os lanches que come por aí,
fora de casa, para voltar e comer aquilo que sacia sua ausência de sentimento
visceral. Mas nós não somos assim.
Se você ainda está nessa insana corrida, desista. Simplesmente
desista de encontrar alguém. Tenha como certo a desistência do tentar, esqueça
as projeções, assuma os fracassos, olhe para o mundo como um cardápio refinado
e sujo e que nunca irá te dar vontade de abocanhar como se não houvesse
indigestão amanhã. O hoje já está indigesto, portanto desista e aceite.
Somente quando realmente desistir é que conseguirá
encontrar alguém.
Foi assim comigo. Deixei de esperar, cansei de ter fome e
passei apenas a me alimentar para me manter sobrevivido. Não via mais
esperanças apesar de esperá-las. Nunca chegavam. Apenas a fome doía, a vontade
de engolir a vida passava a cada ronco do meu choro em minha barriga e a cada lambida
das lágrimas em meu rosto cansado.
A fome já me fez chorar muito. Chorei a fome de alguém
que não existia ainda, a fome de devorar e ser devorado, sentindo o abocanhar descrédulo
deixando um pedaço enorme faltando cada vez que a saudade de alguém que não
existia nos engolia - a mim e a ela - de volta.
Então te recomendo: desista. Aceite a derrota. A vida te
venceu pelo cansaço.
É isso. Pronto, acabou, não há mais nada além disso.
Certo?
Só assim realmente conseguirá achar a tua fôrma ideal.
Desidealizada, inesperada, impreterida, encaixada em todos os conceitos que
voltará a criar e pleitear. Você precisa se livrar de tudo o que acreditou um
dia não merecer... para começar a merecê-los e a tê-los e a aceitá-los.
No final, a gente poderá até não entender ou compreender
que é o amor, mas saberemos matar a fome que nos mata e ainda assim não
saciá-la, sabendo que teremos suprimentos suficientes para nos manter vivos e
nutridos e - por que não? - amados.
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