Um pedido velado de socorro

Posted: | Por Felipe Voigt | Marcadores: ,

O mais triste é saber que se acostumaram à minha dor.

Todos que me conhecem um pouco e que têm acesso a mim, sabem que sofro uma constante dor. Quando chegam perguntando “tudo bem?”, se acostumaram a ouvir um “não” ou um “tudo indo”. Logo depois, na maioria dos casos, segue-se apenas a conversa habitual, sem muito interesse por como estou. Falam de seus problemas buscando soluções em algo que eu possa dizer ou compreender. Talvez busquem referência justamente em alguém que está em eterna busca de compreender a dor e o sofrer.

Habituaram-se ao meu sofrimento, sabem que é uma condição existente e que não há o que ser feito. Desistiram de tentar pois é quase instantâneo em mim a recusa a qualquer ajuda.

Mas não sabem que no fundo estou implorando por ela. Na minha reclusão, quase me rasgo por um socorro. Mas não qualquer socorro. Não aqueles com frases de estímulo do tipo “tudo vai passar”. Quem me conhece sabe que não: não é tudo que passa comigo. Quem diz que vai passar é porque não me conhece. Ou então porque não tem condições de lidar com o que trago em mim, esse peso tão intenso que sufoca e machuca.

Mesmo aqueles que não sabem lidar com isso se sufocam e se machucam ao estar ao meu lado durante minhas crises, meus surtos, meus rompantes. Com isso, a tendência é se afastarem. Pois “não há o que ser feito” para me ajudar e, portanto, resta apenas se acostumar. E se acostumando, se afastam... pois se cansam.

Nessa habituação ao meu sofrimento, tudo vira normal: meus poemas, meus textos, minhas lágrimas, minhas noites sem dormir. Já sabem que isso é cotidiano e se chocam menos. Quase vira um conformismo, uma aceitação a algo que nem eu consigo aceitar. Pode parecer que não, mas há uma luta imensa sendo travada aqui dentro dessas linhas que me cercam.

Das pessoas mais difíceis que conheço, sou a mais impossível. Entendo até a necessidade que possuem de se afastar de mim. Fazem para não me ver nesse estado, nessa condição. Fazem para não sofrer ao me verem sofrer. Uma postura mais fácil ou menos difícil para elas, talvez.

Mal sabem elas que grito em silêncio para suas costas, ante de fecharem de novo, mais uma vez, aquela maldita porta.

Pois se sofro com a presença, com a ausência haverá sofrimento ainda maior. A dor se potencializa na ausência, se digladia no afastamento, se alimenta da distância. Houve quem conseguisse me tirar dessa condição. Me mostrar um outro eu que existe aqui dentro e que gosto dele. Não é um outro eu, apenas um outro lado meu que quase ninguém consegue fazê-lo sair. E eu gosto desse cara, sinto falta dele... e ele existe. Me mostraram que ele existe.

Mas há um lado meu muito cruel comigo. Esse lado cruel tende a massacrar esse meu lado que gosto que exista. Acredite: eu sou muito cruel comigo, realmente chego a níveis absurdos até mesmo para mim. Crio cenários, situações onde esse meu outro eu será rechaçado, humilhado, destruído com todos os requintes sádicos.

E eu realmente sei como fazer isso com maestria.
Nessa fornalha chamada dor, eu a alimento me usando como lenha.

E por que faço isso? Não sei. Nessa minha incessante busca pela compreensão da dor, me coloco em situações ainda piores só por necessidade de entendê-la e conseguir respostas. Mas isso me faz uma pessoa cheia de certezas dentro das inúmeras dúvidas. Estou quase sempre certo e isso me faz ter cada vez mais sede por respostas que aliviem essa certeza. Nesse processo, queimo quase todos que tentam estender a mão para me ajudar.

E o que há de ser feito? Eu preciso apenas que alguém consiga ficar. Não qualquer alguém, mas alguém que saiba e entenda. Que saia mas volte. Que doa mas fique. Que lute comigo contra mim. E que me ajude a defender aquele meu outro eu. E que não tenha medo de me machucar, ser injusta ou egoísta.

Só não sei se mereço... 


5 comentários:

  1. Ariane Galindo disse...
  2. Voce precisa de alguem que consiga ficar... Mas...
    Você consegue ficar? Consegue fazer isso sem sentir dor? Acha que alguém o faria?
    Complicado...

  3. Rodrigo Tetzner disse...
  4. Brother já aconteceu isso comigo tb, mas preste atenção tente sempre ficar perto de pessoas que vc ama, suas irmãs, seus pais, seus amigos (não sei se posso me incluir como seu amigo pois não estamos tão próximos assim, culpa minha tb),pense positivo tente fazer coisas que vc goste. Vamos marcar um dia a tarde pra tomar aquelas no Bar. Abraço

  5. Anônimo disse...
  6. Já pensou que ao invés de lutar contra o seu outro eu você poderia conhecê-lo, fazer amizade com ele, bater aquele papo de bar pra saber qual é a dele, compreendê-lo, se dispor a fazer dele seu amigo e não encará-lo como um inimigo mortal ou um lado seu a ser combatido?

  7. Anônimo disse...
  8. Como ficar quando você não permite que ninguém fique por perto?Como conseguir derrubar esse muro que você ergueu à sua volta?Pode ser cansativo dar sem receber, mesmo sendo o amor um sentimento tão altruísta...

  9. Anônimo disse...
  10. sabe aquele relacionamento louco que quando estamos perto da pessoa queremos distância e quando estamos longe sentimos falta... pois é.. todo mundo já passou por isso.
    Você, Fe, se relaciona desta maneira com você mesmo. Sente falta da opressão que se causa, de projetar o pior dos cenários, mas às vezes queria se ver um pouco livre desta coisa de pensar demais, de ponderar demais, de falar demais... não é?
    Pq se é dificil pra vc mesmo lidar com esse Felipe, imagina para os outros.
    A questão não é se a pessoa vai ou não ficar, ela está. Conviva com isso...
    Só que quando você resolve nadar num rio tão profundo, você vai ter que subir a superfície pra pegar um ar...
    Não dá pra afundar mais se não tiver reservas.

    ;)

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