Pois de todos os companheiros
Foste o mais incansável e leal
Camuflou-me das trincheiras
Da ignorância e da moral
Quando viste que iria afundar
Derrubou-me para fora da nau
Para preservar-me a sanidade
Mesmo em tua insana irrealidade
Fez-me, por vezes, até antissocial
Em tuas linhas, protegi-me
Em teus parágrafos, encontrei-me
Em tuas capas, refleti-me
Em tuas páginas, derrubei-me
Olhas-te me de longe
Em tenebrosas noites
Quando nem mesmo eu
Suportava meus acoites
Estes rompantes que soam
E no meu vazio ecoam
Como irresistíveis convites
Soubeste me ler quando te li
E quando te fechei, me abri
Pois te abri para não me fechar mais
Nos piores dias de solidão
Onde perdido, ceguei-me
Quando a manhã e seu clarão
Sem ventura, violavam-me
E na escuridão em que me abrigo
Agarrando-te tal ancora em meu umbigo
Nem assim abandonaste-me
Quando me acovardei, lutaste
Quando me joguei, segurou-me
Quando me segurei, empurraste
Quando me matei, ressuscitou-me
Com lágrimas minhas
Molhei as histórias tuas
Com mãos suadas, manchei-te
Ao te abraçar, amassei-te
Sufocado, pois, pela saudade
E inebriado pela vontade
Que em teu silencio me gritaste
Pois de todos os companheiros
Foste o mais incansável e leal
(pelo Dia Mundial do Livro)
1 comentários:
Wooow! poesia fantástica!Parabéns por esse blog e também pelo covil do ogro. Conheci seu trabalho recentemente e já virei fã!
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