Estou redescobrindo o prazer de uma cozinha.
Não, nunca fui um bom cozinheiro, me aventuro em coisas práticas e básicas, sem muita preparação ou dificuldade. Mas confesso que tem sido bom descobrir um lado meu que, de certa forma, estava adormecido ou ao menos sonolento.
Minha primeira experiência pra valer foi uma panela de pipoca. Um certo sábado à noite, eu nos meus 12 ou 14 anos, sozinho em casa e com vontade de comer algo. Meus pais fora, minhas irmãs também. A única coisa que achei menos ameaçadora foi estourar pipoca. Ledo engano: usei uma tapa que mal cobria a panela e tão logo os milhos começaram a pipocar, eu senti o óleo me atingir as mãos e braços.
Acabada a tortura, o resultado: ao final do despejo na vasilha, minhas lindas pipocas levaram um banho engordurado. Sim, eu coloquei pipoca de menos ou óleo de mais, você escolhe. A segunda tentativa foi o avesso: tampa maior, óleo de menos. E o cheiro de queimado, obviamente.
Algumas vezes inventava de fritar algo. Um pastel, um amendoim... Sim, tenho uma receita de amendoim frito que aprendi com o meu pai que leva a especial participação de um saco de pão para secar o excesso. Até consegui inventar estourar pipoca com amendoim ao mesmo tempo: enquanto um estoura, o outro frita e ambos ficam prontos ao mesmo tempo.
Como pode ver, pipoca sempre foi minha única especialidade.
Depois disso, me aventurei a pequenas coisas. Até que inventei de criar pão de queijo ou biscoito de polvilho. É, criar mesmo: ver uma receita, guardar os ingredientes e na hora do feitio, esquecer de tudo e ir na base da tentativa-erro. Os primeiros também fritaram em óleo, mesmo sendo assados, se é que me entende.
Um dia minha avó pegou minha receita que dava mais certo ou menos errado. E a melhorou. Ela teve a audácia de pegar a minha receita e melhorá-la. E com uma mão, dada a seqüela de um AVC. E mesmo assim ela foi além. Ah, dona Manoela!
Um viés: eu sempre fui “fresco” pra comida. Há poucas coisas que realmente como e uma lista imensa do que não como. Já fui levado, quando criança, em psicólogos, nutricionistas, pediatras e até benzedeiras. Nunca encontraram nada de anormal. Apenas meu gosto é restrito, não há muita coisa que como, de fato. E mesmo assim peso 86 quilos nos meus 1.85 de altura. Bem nutrido, até!
Pois bem: quando casei, há alguns anos, cheguei a me aventurar em coisas mais diferentes como uma polenta ou mesmo um doce de leite. Mas raras vezes, já que minha ex-esposa tinha uma relativa aversão à louça-para-lavar-no-dia-seguinte. Com isso, eu meio que me segurava para não sujar muita coisa. Assar finos pedaços de queijos numa forma antiaderente era e é minha especialidade – minha famosa “bolachinha de queijo”, de preferência provolone ou parmesão. Ou adicionar um Sazon na fritura da pipoca – sempre ela, claro. Ou ainda refogar da forma mais básica uma carne moída para rechear meu pastel que fica frito de um jeito bem crocante.
Hoje tenho tido mais vontade de me aventurar em coisas diferentes e que possam me prender a atenção por meia hora ou mais, já que durante o dia há a ida ao mercado, a pesquisa pelos ingredientes no celular, a separação de tudo em cima da pia e a respiração funda antes de começar. Tudo acompanhado de uma garrafa de vinho num canto e um blues tocando em outro.
Descobri qual a batata certa para fritura – Asterix é a raça da dita cuja -; consegui fazer tortinha de limão de um jeito que deixa qualquer padoca no chinelo; reformulei minha receita de pão de queijo; faço o melhor pão com bacon e queijo e batata palha que conheço; já sei como fazer torresmo\panceta na panela de pressão; minha paçoca de leite condensado fica divina e meu capuccino é sempre cremoso. Isso sem falar na minha caipirinha de morango com saquê.
Agora me arriscarei, quem sabe, numa panqueca americana ou num cheesecake.
Eu gosto da cozinha, mesmo que dessa forma sem frescuras ou grandes dificuldades. E consegui, finalmente, entender qual o prazer de se cozinhar para alguém e receber um elogio por isso, refletido em um mero “hum”. Uma cozinha é um balcão de bar adaptado: quem assiste e quem confecciona o prato dialogam, se vêem e se notam. Um sentado esperando enquanto o outro em pé se empolga. Depois há a espera do tempo de cozimento ou resfriamento. Depois a apreciação. E durante tudo isso, a chance de se conhecerem mais, além do que já se conhecem.
É íntimo, é particular, é saboroso e cheiroso. Mesmo quando dá errado.
Mesmo quando sozinho e preso à reflexão do dia ou da vida vigente.
O problema é a porra da louça pra lavar depois.
(Escrevi isso por culpa do filme “Entre vinhos e amores”... bom, não só por ele, mas já deu pra entender)
(Ah: se quiser ver o resultado, coloquei umas fotos nesse álbum pra provar que não é mentira!)
Apenas acendo uma vela
perto do interruptor.
Você precisa da coragem
para ir e ascender sua vida.
perto do interruptor.
Você precisa da coragem
para ir e ascender sua vida.
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| Quem sou eu
"Sou a antítese de mim mesmo! Aquilo que me diferencia é o que me escraviza!"
* Editor-chefe de um jornal semanal, já fui produtor e diretor de TV, comentarista politico em rádio, balconista de boteco e o caralho que você imaginar. Só não fui michê por falta de cliente!
* Não estou filiado a nenhum partido político nem tenho pretensões de me candidatar a qualquer cargo público eletivo. Sou somente mais um jornalista metido a falar besteira sobre qualquer coisa!
* Ouço e toco blues, jogo pôquer, bilhar e não estou preocupado com o que vão pensar sobre minhas opiniões aqui escritas.
* Ou seja: FODA-SE!
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6 comentários:
Ah, que coisa boa me deliciar com um texto seu!!!... Esse em particular, mexeu com vários dos meus sentidos... entre "hummm" de sabores imaginados e risos ternos com as observações entre as ideias ( coisa que vc sabe fazer tão bem)...
ah, Fê... vc... bom qdo denso... mas tão, tão bom quando leve...
=D
Texto gostoso! Bacana quando você arrisca, na vida e na escrita. Texto suave como uma taça de vinho tinto.
Nossa! Que texto leve, divertido. Consegui imaginar todas as cenas que narrou, mas juro que imaginei uma criança de aveltal de cozinha(rs), imagino que estava se divertindo da mesma forma inocente.
Mas, olha... vc é muito prendado, viu?. Aposto só não arrumou outra esposa ainda pq não teve quem pogasse o seu dote. O moço sabe cozinhar, rapaz.
Que delicia!!! Fui ler o texto bem próximo da hora do almoço...imagina que o apetite está se intensificando por aqui...rs.rs...
Mais uma vez, vc consegue traduzir coisas tão sutis em palavras.
Olha adoro cozinhar...podemos trocar umas receitinhas...rs..
bj!
O melhor pastel, o pão de queijo mais delicioso, a pipoca com bacon mais saborosa!
Agora: A TORTINHA DE LIMÃO!!!!!
caraaaaalho... bem.. é bom tbm!
kkkkkkkkkkkkkkkkkkk
È só deixar. Eles sabem voar sozinhos!!! Os filhos.
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