Da desfiguração quase auto-imposta

Posted: | Por Felipe Voigt | Marcadores:
Quanto conseguimos nos desfigurar para podermos lidar com nossas escolhas? Até que ponto é necessário deixar de sermos o que somos para podermos conviver com o resultado de nossas opções? Até onde nos tornamos máscaras de nós mesmos?

Entrei em um processo de auto-análise quase destrutivo, onde me desconstruo a cada inquisição e todos os meus pilares estão sendo demolidos. Tudo aquilo que eu acreditei está sendo remodelado, todos os meus conceitos sobre pessoas e relacionamentos estão ruídos. Não há mais estruturas sólidas, apenas escombros emocionais e morais. E confesso que estou com medo de mim.

Mas, mesmo assim, ainda há patamares que seguram todas as ruínas. Conceitos que sempre julguei serem certos e que, mesmo em meio ao caos, estão de pé. Coisas que somente eu acredito e que ninguém mais tem elementos para crer como eu creio. E é justamente essa única pilastra que serve para ser o avesso da moeda, que chega para contrapor todos os entulhos em que se encontra minha vida.

E nesse ponto é que entra os questionamentos feitos no início: até onde conseguimos? Nos fazendo acreditar em coisas que achamos que precisamos acreditar, o que nos trará de real benefício? Uma esperança para o futuro? Um desapego do passado? Um presente quase irreal?

Porque tudo em volta está ruindo, mas ainda olhamos para aquele único pilar e achamos que será a fundação de uma nova vida, remodelada, livre dos vestígios de um passado que nos fez apenas desconstruir a nós mesmos. Mas a desconstrução foi necessária. Ela teve uma razão.

Há quem ache que essa desfiguração auto-imposta seja se desapegar de modelos que empatavam o progresso interno. Há quem afirme que só se livrando de antigos conceitos é possível se ver novamente crescendo. Mas são todos esses antigos conceitos, agora caídos por terra, que nos trouxeram até onde estamos. São eles que nos fizeram retrair ao menor sinal de impacto. São eles que nos fizeram buscar abrigo ao menor sinal de frio. E são eles que nos fizeram abrir os olhos para a realidade que nos cercava.

No fim, mesmo que passemos caminhões e caminhões sobre todo esse mundo recém-desmoronado, ainda assim saberemos quem fomos. E quem somos. E que nada do que façamos agora durará muito tempo se não for pra sermos nós mesmos. A superfície pode ser plana, mas é abaixo dela que se encontra o verdadeiro eu. Mesmo que precisemos acreditar nessa superfície rasa, mesmo que precisemos sustentar novos castelos, as fundações estão abaladas, inacabadas.

Aqui embaixo, sob todo entulho emocional, me coloco a pensar. Ainda são muitas pedras a serem retiradas, todos os pilares a serem revistos e reconstruídos. Portanto olhe bem para quem você está olhando agora: esse alguém não mudou, nem você mudou. Tudo está apenas adaptado... Eu não mudei, você não mudou, eles não mudaram: estamos apenas adaptados. Mas adaptações ruem.

Um castelo começa a ruir quando uma primeira pedra é atirada; e a mão que a atira é a mesma que a atirou antes; assim como a mão que a tirou é a mesma que a tirará amanhã. E foram tantas pedras atiradas, tantas outras retiradas.

Até onde conseguimos ser fantasmas de nós mesmos, assombrando todos os corredores dessa nossa nova vida? Eu ainda acredito nesses fantasmas... e ainda não consigo desistir de acreditar. Adaptados ou não, desfigurados ou não, reais ou não. Simplesmente não chegou a hora de exorcizar ainda. Nem de ser exorcizado.

São ruínas, são fantasmas, são desconstruções de alicerces, são desfigurações humanas... Apenas espere, mas não pare. Escute mas não ouça. Olhe e não veja. Ainda há muita fumaça no ar. Quando essa cortina se dissipar, saberemos os reais estragos e as reais cicatrizes.

Agora nada é real. Tanto aqui embaixo quanto aí em cima. Apenas não sabemos de nada.

3 comentários:

  1. Taty Izquierdo disse...
  2. Enfim... a solidão!
    Não pense que é ruim esse vazio no peito
    Ele serve simples e unicamente para me amadurecer

    Não pense que está me castigando com esse silêncio
    É assim que consigo ouvir a voz do meu coração
    E assim vou escolher o caminho certo para felicidade

    A euforia, às vezes ofusca nossa razão, confunde os sentimentos
    E acreditamos que é real. Que tudo é real...
    O coração palpita e não quer ouvir conselhos
    Mesmo sabendo que esse castelo pode desmoronar

    Pessoas chegarão e partirão de nossas vidas
    Unicamente com a missão de nos ensinar algo novo
    Cabe a nós guardar o que nos é importante
    E descartar o que não nos serve...

    Acredite:
    Muitos estão chegando e outros, partindo!
    Não quero que se vão, mas eu os deixo ir
    A solidão em meio a tanta gente me é útil...

    O tempo passa rápido
    A felicidade não pode esperar
    NÓS não podemos esperar

    Buscar o que me faz feliz
    Entender o que me faz feliz
    Viver o que me faz feliz
    Mesmo na solidão ou com a multidão

    E seja como for,
    Não aceito a tristeza porque felicidade é minha prioridade
    E se eu não tiver motivos pra ser feliz, com certeza inventarei alguns!

  3. Anônimo disse...
  4. De tanto pedir mais emoção, mais entrega e menos razão, consegui....não pedirei para voltar a ser o ser totalmente movido pela racionalidade, mesmo conhecendo seu lado de sensibilidade extrema, mas se avalie friamente e me avalie friamente por alguns minutos e entendera...
    Não se racionalize, mas não seja somente emocional.

    Pondere.

  5. Ariane Galindo disse...
  6. "Se somos honestos com nós mesmos, porém não atingimos nossas metas. Necessitamos de algo que nos leve a aceitar-nos totalmente como somos agora e que nos oriente a trabalhar com o que bloqueia nossa evolução pessoal e espiritual. Precisamos de mapas da psique que não idealizem nem doutrinem nossas deficiências humanas.
    Precisamos de orientação que nos ampare à medida que nossos passos nos levam da pessoa que somos agora para a pessoa mais elevada, mais realizada e mais consciente que podemos ser. O caminho nos incentiva a parar de tentar fingir que somos uma imagem idealizada de nós mesmos, a pessoa que pensamos que deveríamos ser."

    Eva Pierrakos

    Muitos lerão o que você diz e pensarão ser bobagem, outros poucos entenderão, mas poucos sabem o quanto este caminho é difícil de seguir, pois conhecer a sí mesmo é uma árdua tarefa.

    Bjs

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