Malditos alados

Seja sempre o anjo de alguém
mas não trate com desdém
esse assunto
angelical.

Não falo daquele anjo idiota
bobo e bonzinho,
isso é lorota
que nos contam no natal.

Seja aquele que mete o pé na porta
Que na cara bate,
depois conforta
Devolvendo, assim,
o mundo real.

Se afunde na lama e escuridão
que o alheio traz
no coração
sem medo de isso
lhe ser fatal.

Resgate a essência
hoje esquecida
que muitos há muito
julgaram perdida
de uma forma quase
consensual.

Confronte aquele
que agora se definha
Desafie-o a lutar
tal bicho em rinha
Fazendo-o sair
do terreno surreal.

Destrave as portas
do calabouço
que faz da vida
eterno arcabouço
de um manicômio
emocional
onde ele padece
quase em desígnio
transformado em louco
pelo escárnio
dessa gentarada
dita normal.

Ceda o ombro,
ampare a lágrima
mas cobre a dissolução
da lástima
que sempre lhe foi habitual.

Cortaram-lhe as asas, não o pescoço
Andarás, assim, pra fora
deste poço
Seja por bem,
seja por mal.

E quando voltar a enfim respirar
e voltar a sentir
e voltar a sonhar
ajude-o a se livrar
do lamaçal.

A alma se lavará em riso e choro
por pôr fim ao trágico namoro
com o paradoxo paradigmal.

Todo mundo tem um anjo
Seja você o maldito alado
de alguém tão esquecido
tão fodido quanto você.