Complexo de Morpheus e a verdade “absoluta”

Posted: | Por Felipe Voigt | Marcadores:

Quem nunca ouviu alguma teoria de que estamos sendo enganados o dia todo, controlados o tempo todo, direcionados a vida toda a acreditar em algo que não é real?

Teóricos da conspiração são frutos que nascem em cada esquina, sempre se colocando acima do resto da humanidade pois eles “sabem” de algo que todo o resto desconhece. Para eles, todo o mundo é ignorante e somente ele sabe do que está falando.

E desde que a internet entrou em sua versão 2.0, esses teóricos se alastraram com uma velocidade absurda: hoje qualquer um vai saber de algo que “ninguém mais sabe” simplesmente ao acessar um Youtube e ver trechos de algum documentário feito por outro sabichão, embasado em outras teorias de outros sabichões... Afinal: é tão difícil fazer um vídeo atualmente, não? Se está documentado em um filme produzido por alguém é porque aquilo realmente faz sentido. Mesmo que seja pra enxergar o demônio em fumaças de explosões.

Ou qualquer gênio pós-internet irá escrever posts em seu blog sobre teorias que SÓ ELE teve a capacidade de criar e de imaginar como a verdade foi surrupiada da humanidade, de ter uma epifania que o fez enxergar “além do óbvio”. Mas virando a esquina virtual, temos outro blog com as mesmas “ideias originais” e que precisa fazer o mundo ignorante vê-las.

E desde que a internet é a internet que conhecemos, não há caso melhor para os teóricos gozarem nas calças de tanta verdade precoce do que os atentados de 11 de setembro de 2001 nos EUA. Olha, é como se a cada menção ao fato, o pau filosófico deles conspirasse para que a verdade seja esporrada na sua cara, seu ignorante!

Quando se tenta questionar a motivação da pessoa crer em qualquer coisa que lê e vê na internet ou tenta-se pelo menos duvidar da versão “oculta” apresentada, o discurso é o mesmo: “fique aí na sua ignorância”; “acorda pro mundo real”; “tem gente que faz questão de ser enganada mesmo”. E por aí vai...

Fico admirado em ver que esse tipo de gente fica venerando tanto essas conspirações que só depois de descobrir a “verdade inabalável por detrás dos fatos oficiais” é que ficam com medo de nossos governantes, do nosso mundo e do nosso ser humano. Falam, com indignação exemplar, que “tenho medo de viver num mundo onde nos omitem a verdade” ou “se são capazes disso, do que mais seriam?”. Mas desconhecem o que os governantes de sua própria cidade fazem com ele e a forma como o manipulam. Ou mesmo a situação real de seu próprio país. Ou até um simples questionamento sobre se deve tomar tal remédio mesmo ou não.

Estudam com afinco toda e qualquer informação sobre o 11 de Setembro, sabem nome de fontes e grandes teóricos, mas desconhecem a aplicação de uma lei como o Ficha-Limpa. Ficam raivosos em ofender quem eles acham que está “acreditando na mentira oficial”, mas sequer esboçam reação ao serem aliciados a votar em certo vereador, com a promessa de ter o amigo ou o sobrinho empregado no gabinete. Ou mesmo aqueles que batem no peito que “a mim ninguém engana, não!”, mas correm pro bar pra beber aquela cerveja de graça que um candidato a deputado está pagando para a comunidade local.

E o mais foda: não dão o mesmo benefício da dúvida para o material que estão acessando. Assim como a versão oficial teve suas manipulações, por que todo esse “vasto e contundente” material conspiratório também não pode ser manipulado? Com que objetivo aquele fato foi colocado dessa maneira? Se a versão oficial tem suas razões, a versão “marginal” também tem...

Houve camuflagem no que aconteceu nos atentados da década passada? Claro que houve. Tiraram proveito político disso? Óbvio que tiraram. Mas não use ISSO pra se indignar com o mundo onde vive. Lembre-se, por exemplo, de que mora em um país que viveu 21 anos de ditadura, que foi uma verdadeira faculdade de esconder e manipular informações. Se quer ter tanta razão no que fala e diz, aprenda a ver essa “conspiração” acontecendo dentro do seu próprio berço. Mas para gente assim, tanto faz se indignar com a não-cassação da Jaqueline Roriz: “isso aconteceu lá em Brasília, não me diz respeito, tá longe da minha cidade”.

Leia menos “o homem não foi pra Lua” e se intere mais sobre o Caso Herzog ou a tentativa de controle da imprensa que o PT tenta nos enfiar goela abaixo novamente. Não, não vou linkar nada para esses fatos: se quiser, aprenda a usar o Google para além de pesquisas com o termo “farsa 11 de Setembro”. Assim é fácil.

Há necessidade de questionar sempre as versões oficiais de qualquer governo, pois é óbvio que um povo ignorante é um povo que não questiona seus líderes. E se não questiona, vota em qualquer merda que lhe colocarem à mesa. Mas questione também o outro lado. Ele tem a mesma intenção do “oficial”: te inundar com verdades distorcidas para que acredite em algo de forma que possam tirar proveito.

Tenha a certeza de que dados foram manipulados e distorcidos no 11 de Setembro. Mas não ache que uma cultura como a norte-americana seria capaz de colocar explosivos em um símbolo nacional e implodir as torres apenas pra ter um motivo pra ir pra guerra e lucrar com isso. Seria o mesmo que acreditar que os militares da ditadura brasileira implodiriam o Cristo Redentor.

Entenda que nesse “american way of life” não tem espaço para feridas em pontos estruturais de sua cultura, como o orgulho de ser uma nação poderosa, por exemplo. Acha mesmo que aceitariam ser vistos pelo mundo todo como um país – e um conceito – que está frágil e exposto em um atentado daquela magnitude? Sério que acredita que o próprio governo norte-americano – mesmo com um maluco como o Bush liderando – aceitaria se rebaixar assim e provocar um ato de profunda automutilação?

Lucraram com a guerra, usaram isso pra “reforçar o orgulho norte-americano”, deturparam fatos para que tudo fizesse mais sentido na “caçada ao terror” e toda a motivação que tiveram para isso, mas também viram milhões de pessoas duvidarem da capacidade de seus líderes, outrora deuses, de garantirem sua segurança. Viram uma nação questionando e cobrando seu governo. E isso, nessa cultura em que os EUA vivem, é pior do que uma guerra urbana.

Sinto muito: mas se acredita nessa versão dantesca do 11 de Setembro, tem a obrigação de acreditar que Elvis não morreu e come hambúrguer de minhoca no McDonalds!

Enquanto isso, vou ali pegar aquela pílula azul que o Neo jogou fora.
Vocês já pegaram todas as vermelhas disponíveis, mesmo...

8 comentários:

  1. Evelyn Paparelli disse...
  2. Grande Felipe...ótimo saber que ainda existem pessoas de bom senso como você, e uma pena que tantos estejam do outro lado da moeda. O lado do absurdo, da desconfiança, o lado fora da realidade.
    Ha sempre sim alguem conspirando e tramando na cabeça desses fracos. Nada é como é, como parece ser pra essas pessoas, tem sempre algo extremamente simples e claro pra eles, mas não para nós imbecis que não enxergamos um palmo na frente do nariz. E o que mais me impreciona é a CRIATIVIDADE dessas pessoas, sem contar o fato de que como você disse: eles sempre sabem tudo, e só eles sabem.
    E falando agora do acontecido em 09/11, eu que estou aqui "calçando os sapatos" daqueles que desde o fato tem visto e acompanhado no seu dia a dia mudanças tristes, e observando diariamente que o futuro dos seus filhos jamais será nem de perto aquilo que sonhei pra eles, pelo simles fato de que o mundo (aqui pelo menos) mudou, e muito, drasticamente! Não se confia em mais ninguem, não se pede um ovo emprestado ao vizinho...nem se sabe quem é o vizinho, de tanto MEDO. E hoje ainda assistindo na TV imagens fortes de pessoas pulando daqueles prédios em chamas, sem escolha, ou morro aqui ou pulo para morte...penso comigo e me pergunto: Como é que tem gente que no dia em que o Bin Laden foi morto questionou, citou o termo "Direitos Humanos", pelo fato do governo americano nao ter dado ao cara o direito de ter sido julgado e então condenado??? Como alguem pode achar que ele tinha algum direito, e que aquilo fosse perto se ser humano?? Como??
    Meu caro Felipe, vc se superou mais uma vez, e agradeço pela oportunidade de aqui expor meus sentimentos também, é sempre bom saber que la no fim do túnel tem uma luz, e essa luz tem sido você!

  3. Daniel Pissetti Machado disse...
  4. Não generalize. Nem todo "conspiracionista" baseia-se no senso comum. Existe muita bobagem disponível na web, mas algumas coisas merecem nossa atenção. "Don't mind the men behind the curtain ZEITGEIST".

  5. Sabrina Aquino disse...
  6. Bacana o post, acho que vc tem razão na sua colocação, mas vou comentar por um outro assunto, um detalhe que me chamou atenção e nada tem haver com o tema do post.
    Não entendi o que você quis dizer com o "tentativa de controle da imprensa que o PT tenta nos enfiar goela abaixo"...
    Pelo o que eu entendi da proposta era uma coisa bem parecida com o que fizeram na Argentina e que conta com uma excelente aprovação dos profissionais da comunicação por lá.
    Foi criado para inibir o monopólio. Garantir que o maior número possível de grupos tenha acesso à propriedade dos veículos de comunicação de massa. Para que a partir daí, a mídia seja uma polifonia de sons diferentes, em que o telespectador tenha de fato o direito de escolha, e não esse concerto em uníssono, em que as opções são inexistentes. É impossível mudar de canal pq em todos os canais vemos o mesmo lixo. Na disputa por audiência acabam um imitando o outro. A mídia chama de liberdade nós termos que escolher onde vamos ouvir a MESMA COISA que todos os veiculos estão dizendo. Um copiando o outro.
    Não estou defendendo PT, nem sou da turma lulo-petista, que fique claro. Só queria entender seu ponto de vista. Abraços

  7. Sabrina Aquino disse...
  8. O governo jamais deve intervir diretamente em qualquer órgão de imprensa, o governo deve garantir as liberdades de expressão que cada mídia deve ter neste país, que depois de uma sangrenta ditadura (que aliás, apoiaram gostosamente)vive hoje na democracia, mas o governo também não deve aceitar ser pressionado, caçoado e humilhado por gente que não aceita que pessoas que pensem diferente deles estejam no comando da nação por vontade popular.

  9. Felipe Voigt disse...
  10. Como quer citar a Argentina como exemplo? O país, que sempre esteve à frente dos demais no quesito "liberdade individual", está mostrando um claro ataque ao livre exercício da imprensa. O governo de lá está agindo abertamente no intuito de cercear e coibir e limitar a imprensa...

    O PT tem essa intenção há anos e vende a ideia como um "controle regrado e democrático", mas na realidade quer apenas controlar o que pode e o que não pode ser divulgado. Um dos seus mentores, José Dirceu, sempre se declarou contrário à liberdade de expressão e de imprensa.

    O governo tem simplesmente de aceitar os ataques e saber que isso faz parte de um estado democrático e livre. Há leis que punem os excessos, nenhum jornalista é intocável juridicamente. Mas achar que um governo "não pode aceitar ser pressionado" é rebaixar todo o conceito de democracia. Todo governante precisa e merece, SIM, ser pressionado e cobrado exaustivamente. Se houver excesso, há a Justiça para garantir seus direitos, como os de qualquer outro cidadão.

    Não dá pra citar a Argentina como exemplo nesse caso... ainda mais nos últimos dois anos!

  11. Sabrina Aquino disse...
  12. Não uso o exemplo argentino de graça. O que quero dizer é que de fato a mídia faz uso político o tempo todo da vantagem que possui, a inestimável vantagem de se comunicar com milhões de pessoas. Não possui qualquer desejo de prestar a melhor informação, só pensa em si própria e o país que se dane. O governo tem que ser pressionado sim, concordo, mas por seu povo como um direito democrático e legítimo. Não deve ser massa de manobra de monopólios midiáticos que defendem seus próprios interesses cegando a população com seu jogo sujo. Sei que o PT vive se queixando da perseguição da mídia, muitas vezes usa isso para se safar de muitas acusações que deveriam ser melhor investigadas. Cristina Kirschner é constantemente acusada pelo grupo Clarín de censurar a mídia... promulgou nova Lei de Meios Audiovisuais e por isso é odiada pela mídia argentina e lhe valeu o ódio eterno dos grandes grupos do setor. Agora acabou de revogar um absurdo privilégio que os grupos Clarín e La Nación tinham sobre o papel de jornal. Está sendo vitima de todo o tipo de difamação na imprensa argentina. Por achar que se deve acabar com o monopólio e pelo fim da propriedade cruzada, eu discordo de você.

  13. Felipe Voigt disse...
  14. http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2011-10-05/empresas-de-comunicacao-condenam-controle-da-midia-na-argentina-venezuela-bolivia-e-no-equador

  15. Sabrina Aquino disse...
  16. Péssimo artigo, só reforça tudo o que eu disse acima... estão morrendo de medo da festa acabar. O que aconteceu na Venezuela não foi censura, simplesmente a concessão que esse canal tinha não foi renovado. Uma emissora que por sinal tinha vários processos que pesava contra ela e foi responsável pela tentativa de golpe de estado contra Chaves. Sem mais.

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