Todo mundo tem sua lista de grandes discos que marcaram sua vida, com as músicas que mais te falavam aquilo que você precisava ouvir na época, que te fazem lembrar momentos bons, ruins, ótimos e péssimos. Uma viagem, um beijo, uma paixão, uma desilusão, um sentimento, uma era. Pense nos seus e veja se não é possível sentir tudo de novo apenas ao ouvir a introdução de uma música?
Pois bem: resolvi fazer a minha. Mas como todos fazem “As 10 Mais”, “Os 5 Melhores”, sempre usando números batidos, resolvi lançar o meu Top 11. Por que onze? Porque eu quis, oras... o blog é meu!
Vou dividir em três partes e os discos não estão em ordem nenhuma. Apenas coloquei conforme fui me lembrando deles e da época em que os ouvia pra caralho. Alguns não são os melhores do artista em questão, mas são os que mais me marcaram de alguma forma. São aqueles que ainda tenho o CD, guardo com carinho, tiro o encarte pra folhear...
:: The Who - Who's Next
Demorei muito tempo pra entender e gostar de The Who. Quando moleque, me soava um rock adulto demais, mesmo porque tive acesso a eles muito cedo. Tenho um tio que é minha referência musical, me educou para isso desde criança... e ele sempre foi fanático por esses caras e eu não entendia o motivo. Precisei crescer, sofrer, tomar porrada da vida e aprender a beber pra compreender a grandiosidade dessa banda. Hoje é minha bíblia musical e poética. Quando quero escrever um poema, vou ler suas letras, ouvir suas músicas... é o que abre minha inspiração, me fazem filosofar sobre a vida, sobre sentimentos, sobre pessoas.
Esse álbum em questão é, pra mim, o melhor deles. Fiquei bem tentado em colocar aqui o Endless Wire, o primeiro de inéditas em 24 anos, lançado em 2006 e que ouvi pra caralho e é foda... mas o Who’s Next tem Baba O’riley, Won’t Get Fooled Again, Love Ain’t For Keeping, Naked Eye, I Don’t Even Know Myself (a letra é foda pra caralho), My Wife… clássicos que já nasceram clássicos e permanecem assim. Isso é música pra você sentir no corpo, na cabeça, no coração, na alma, na língua! Precisa sentir o gosto do rock em cada riff do Townshend, em cada grito do Daltrey, em cada batida do Moon!
Mas o que faz esse álbum simplesmente foda é Behind Blue Eyes. Sabe quando você tem uma letra que parece ter sido escrita por você, sem tirar nenhuma vírgula? Por muito tempo essa música era o que me aliviava a tensão de ser como sou, da incompreensão, da dor... E me motivou a compreender o que outros blue eyes escondiam behind. Ainda choro ouvindo, fazer o que?! (E nem a versão tosca do Limp Bizkit conseguiu estragá-la... só uma coisa muito foda sobreviveria a isso)
Um disco que já tem 40 anos... e não vi ainda nenhum outro como ele.
:: Neil Young – Silver & Gold
Neil Young é daqueles caras que me acompanham desde que me conheço como roqueiro. Escutava ainda moleque o Live Rust (e sua capa memorável) com meu tio - aquele mesmo de sempre - e ficava maluco com a guitarra desse grandão meio desengonçado ao tocar sua guitarra. Solos intermináveis, altos pra caralho, estridentes... E aí eu me surpreendia quando esse mesmo cara pegava uma gaita, um violão, sentava e tocava. Era sua própria antítese! Em 2001, fomos meu tio e eu, ao show do velho no Rock in Rio. Ganhei dele como presente de aniversário, já que aniversario no dia 19 de janeiro e o show era no dia 20. E como já sabíamos meses antes do show, passei muitas semanas ouvindo sem parar o Silver & Gold, de 2000. Tanto é que, por causa desse álbum, esperávamos um show banquinho-gaita-violão. Mas não: o velho veio com a Crazy Horse e botou pra fuder. Até se cortou tocando, deu o sangue pelo rock and roll... desde sempre!
Trata-se de um disco gostoso de ouvir no carro, dirigindo por uma estrada qualquer, vendo o sol se pôr ao seu lado, à sua frente. Ouvir de madrugada pra acompanhar uma leitura, pra relaxar durante uma conversa - acompanhada de cerveja, claro! A faixa-título é simplesmente uma das melhores declarações de amor que já ouvi. Simples, ingênua, inocente... e real!
Você fica maravilhado ouvindo Red Sun, Good To See You, Distant Camera... Mas o destaque mesmo vai para Buffalo Springfield Again: ouvir o velho Neil cantando sobre sua antiga banda, a forma como coloca os áureos tempos, colocando o mea-culpa e o saudosismo à prova, dizendo querer ver aqueles caras novamente... É emocionante.
Ainda o ouço com o mesmo valor que dei a ele quando tinha 18 anos e aguardava meu aniversário de 19, que me traria o dia de vê-lo ao vivo. Não basta ser um puta álbum: é um puta álbum que me marcou de uma forma muito positiva. Quando estava quase descrente, mais uma vez, o velho me mostra que é possível falar de amor, de coisa boa, de sentimentos bons... sem ser pedante ou apelativo. É isso: um álbum lindo e igualmente simples. Coisas que só um gênio como Neil Young poderia produzir. Minha vida seria diferente sem esse álbum.
:: Bruce Springsteen – The Rising
E quando você toma outra porrada da vida, cansado, exausto novamente e se vê quase desistindo de acreditar, o que acontece? A vida te traz um The Rising pra te salvar de novo. Lançado em 2002, só fui conhecê-lo em 2005. E caiu no meu colo na época em que eu iria entender essa obra... talvez se a conhecesse no lançamento não daria o mesmo valor. Eu estava em outra pegada naqueles dias. Chegou quando precisava chegar. Esse álbum meio que inaugurou uma série de trabalhos intimistas de Springsteen. E começou muito bem: trata-se de um disco muito bem elaborado, com a volta da E Street Band depois de 18 anos - Steven Van Zandt fazia falta... e como fazia! Isso fez com que o clima ficasse propício a uma obra assim: com letras reflexivas, exaltando a superação, aceitando dores, buscando passar por cima de algumas e convivendo com outras. É assim em Empty Sky, em Lonesome Day, em Into The Fire e em Nothing Man, por exemplo.
Como ainda havia o peso dos ataques de 11 de Setembro sob os pilares do país, ainda mais nas bases culturais e filosóficas, há várias referências aos mortos e aos que ficaram chorando suas perdas. Referências como “escadas de fogo”, “nuvem de vapor”, “esperando por um dia de sol, afastando as nuvens”. É o que se espera do cantor-operário, aquele que faz os fãs imaginarem Bruce como um trabalhador comum, um cara que vende cachorro-quente durante a semana e no final dela sai fazendo uns shows por aí. E é o que ele faz em My City Of Ruins, onde conclama à todos para que se levantem, limpem a poeira de seus corações e sobrevivam.
Ele sofreu o baque junto com todos e transformou em poesia a perda de esposas, maridos, pais, filhas, amigos, colegas, conhecidos... e isso sem soar como um álbum nacionalista, que faça sentido apenas para aquela sociedade. Todo mundo que perdeu um amor se sentirá abraçado pela música de The Rising.
As faixa que mais me arrepia é Countin' On A Miracle. Sensacional, te dá um empurrão sem ser falsa positivista, aquela coisa chata do otimismo desenfreado. Te mostra que o sentimento independe da existência do outro para existir. E faz você olhar pra cima, respirar fundo, suspirar e chorar. São músicas que vão te fazer assumir suas dores e não tentar afastá-las de você. Elas estão aí pra ficar... conviva com elas, supere os efeitos e siga adiante.
Talvez seja o álbum mais emocionante que tive o prazer de ouvir. Nunca vi tanto coração em forma de arte assim... Me ajudou pra caralho e ainda ajuda. Há vida com dor. Apenas precisamos nos educar para elas.
:: Rob Zombie - Hellbilly Deluxe
Comprei por cinco reais num sebo. E comprei por causa da capa, confesso. Não conhecia Rob Zombie o suficiente para comprar qualquer coisa sua apenas por ter seu nome. Já tinha ouvido coisas do White Zombie, sabia que era pesado e era bom, mas trabalho solo do Rob eu nunca tinha visto. E só depois fui entender o motivo: esse foi seu primeiro álbum solo, lançado em 1998. Começou bem.É um disco violento. O clima de show de terror, as vinhetas na abertura de cada música – com crianças falando, gritos e batidas como a Call Of The Zombie -, os temas horripilantes... tudo isso dá medo! E isso te faz querer virar um zumbi faminto. Sério: você exterioriza todo aquele sentimento quase canibal, com vontade de gritar, de ser mal, de sair vomitando sangue, deixando a respiração ofegante e os olhos cerrados.
Parece exagero e é. Por isso é foda esse disco. Mescla metal pesado com elementos industriais e eletrônicos. Rob conseguiu colocar todo o clima dos filmes de terror da década de 60 – dos quais é fanático e os usa para dar nome às músicas - em moldes atuais com efeitos sonoros antigos, os mesmos usados nas trilhas dos filmes. Não é música para qualquer um: já vi muito roqueiro por aí “enjoar” na terceira faixa.
O clipe de Dragula é até divertido apesar da música ser um petardo alucinante. Demonoid Phenomenon é, pra mim, a melhor. Realmente envolvente, te deixa maluco... é até perigoso ouvi-la dirigindo. Meet the Creeper causa o mesmo efeito. Spookshow Baby poderia muito bem ser usada em uma cena de perseguição de zumbis pela cidade atrás de carne! Sabe aquela cena em que eles saem mordendo qualquer coisa que respire? Então...
Gostoso é ouvi-lo numa noite chuvosa, às três da manhã, com apenas uma vela acesa na sala. Eu já fiz. Duvido que você faça. Pode começar por Living Dead Girl. Mas duvido que consiga ouvir o começo de Return Of The Phantom Stranger sem ficar com o cu na mão.
É um álbum que me deixa com tesão... Devo ser doente.
to be continued... AGAIN! HaHaHaHaHaHaHa
4 comentários:
Mais uma vez parabens pelo top 11... e The Who entao... ha muito nao ouço nada tao bom quanto!!! top 11 de muito bom gosto!!!!!
Adorei..adorei.....
Voltei a minha adolescência.....tempo bom demais...
Beijos
Obrigado pela menção, Pitt!
Fico orgulhoso e ao mesmo tempo honrado por ser mencionado nessas belas referências!
Mas...
young foi foda!
kkk
Valeu...
Neil Young e Bruce Springteen é falar diretamente com a minha pessoa...rs.
Longe de todo esse conhecimento que vc tem álbum por álbum , letra por letra, o meu simples gostar é a música falando comigo.
Conhecer mais de The Who?...É culpa sua...
Que foda seu tio vir comentar!!!
Delícia de post!
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