Dilemas femininos do velho novo século

Posted: | Por Felipe Voigt | Marcadores:
Esse lance de gravidez tardia sempre foi assunto na mesa do café: quando ter filho, quando não ter, se é bom esperar, se deve ter logo... Cada um sempre tem a fórmula ideal sobre quando a mulher deve ficar grávida, mas esquece-se de checar todos os fatores e agravantes. Há quem opte por se consolidar profissionalmente, há quem prefira postergar a profissão e viver os mares da maternidade enquanto é uma jovem maruja.

Antes, quando a expectativa de vida era muito menor e a presença feminina na sociedade era apenas a de dona do lar e procriadora, os casamentos aconteciam mais cedo e a cegonha batia à porta com mais frequência. Nossas avós tinham facilmente mais de cinco filhos; hoje, dificilmente alguém se arrisca a ter mais do que dois. Antes aos 25 uma mulher podia se considerar na metade da vida, logo, teria de ter filhos o quanto antes. Hoje, alguém com 35 não pode considerar que chegou ao meio do caminho, ainda. Por isso, se permite ser mãe "velha", na casa dos 30... coisa absurda décadas atrás.

Esse progresso social infelizmente não é ainda acompanhado pelo corpo feminino, aparentemente. Por mais que a ciência e a medicina estejam avançadas, há toda uma resposta genética gritando para que a mulher seja mãe. A menstruação mais cedo nas meninas e a falta de gravidezes faz com que os ciclos menstruais sejam maiores. Lembro-me de uma palestra com o Malcom Montgomery onde ele fez essa conta e mostrou que antes, por menstruarem mais tarde e engravidarem mais e mais cedo, as mulheres tinham menos ciclos menstruais do que as atuais, que menstruam anos mais cedo, protelam demais a maternidade e optam por menos filhos. E fazem uso de métodos que antes não eram tão "eficazes". Tudo isso traz consequências para o corpo da mulher, como lido nessas duas matérias:


E é nisso que entra esse lance do dilema físico-social: enquanto ela opta por se formar melhor como ser humano para criar outro ser humano, a natureza fica apitando, avisando que poderá ter consequências caso encontre barreiras e atrasos. E essa pressão emocional, mental e psicológica me faz pensar que é foda pra caralho quem quer ser mãe atualmente. Não que antes fosse fácil, com menos pressão... É que hoje há ainda o "peso da emancipação". Cobra-se dela a parte mulher, a parte profissional, a parte humana, a parte esposa e a parte mãe.

Mas como impor que uma moça de 20, 25 anos seja mãe sendo que ela nem se encontra capaz de formar seus sonhos direito, ainda? Há crises existenciais cada vez mais precoces, uma incerteza no trabalho, nos estudos, nas relações. Mesmo com 30 ou 35 anos é assim...

É triste pensar tudo isso gere mais cobranças por mais filhos, com mais frequência e com mais precocidade. Se não engravida, tem risco pro útero; se toma determinada pílula, pode ter problemas de saúde.Mas se tem filhos, os problemas emocionais para quem não está preparada podem ser piores do que os físicos, já que o emocional se manifesta em áreas e modos completamente diferentes. Sem falar no desgaste humano de ser tratada por maridos e namorados e noivos despreparados, que cunharão em sua testa apenas o ferro da procriadora. Muitos a colocarão como mãe duplamente: de seus filhos e deles mesmos. Mas "mãe" com o benefício do sexo sem complexo... coisa que nem Édipo poderia querer melhor.

Como vocês, mulheres, gerenciam tudo isso? Trabalho (pressão, assédio, desconfiança), relacionamento (mais assédio, mais pressão, mais desconfiança), maternidade (auto-pressão, auto-desconfiança)?
Honestamente, não sei se teria culhões pra isso tudo.

4 comentários:

  1. Paula disse...
  2. Acho que é por isso que se tem a impressão de que a mulher valoriza cada vez mais a TPM. Além dos fatores hormonais, ela deve estar relacionada a todas as preocupações a mais que temos que administrar atualmente.

  3. Lenita de Paula disse...
  4. Não temos culhoes! Por isso algumas mulheres são tão cruéis com as outras e consigo mesmas na vida, na carreira, na criação dos filhos, no amor e ate numa suposta "estabilidade emocional". Mas a verdade eh, nenhuma mulher se suporta mulher, eu mesma me pego soltando a frase "porra, devia ter nascido homem". Ate mijar em peh já seria uma vantagem tentadora.
    Somos cobradas de posturas doces e valentes, de ter medo e ser corajosa, somos cobradas e ser mãe e ter uma "vida, carreira", somos cobradas em amar incondicionalmente, ser boa esposa, ser boa mãe, ser boa mulher, ser mulher "Nova", "Claudia", "Marie Claire", "Vc s/A", "Pai e Filhos" e "Playboy" e o pior a pessoa que nos cobra com mais crueldade, eh justamente aquela que nos conhece em cada "deficiência" e dói, como dói. Quem nos impõe títulos e cargos e posturas e ate sentimentos, a maior algoz de uma mulher: Ela mesma.
    Amei o texto!
    Beijokas, Fe

  5. Anônimo disse...
  6. É véio...vc tem razão...to com 45, minha mulher faz 40 em janeiro e temos que decidir o quanto antes se queremos ou não mais um filho... maternidade em idade acima dos 40, a cada ano, cria mais riscos pro bebê e pra mãe... por outro lado, a vejo num estágio de stress que nossas mães e avós não tinham, uma vez que cuidar das crianças era sua sina, sem discussões.
    Por outro lado ainda, as mães modernas sofrem de outra forma, pois ainda que queiram retomar a vida profissional após o parto, sentem-se intimamente ligadas á criança e qualquer distancia parece mortal. Aos pais, resta tentar suprir o que dá, ainda que não amamentem, ficando com o(s) filho(s) sempre que possivel pra mãe poder ter uma noite de cinema com as amigas. Mas de nada adianta. Longe elas sentem falta da cria, perto entram em parafuso pela energia inacreditável que a maternidade dispende.
    E pensar que já fizemos o mesmo com nossos pais. Quer saber? Fudemos a vida dos nossos pais...tiramos as noites de sono, os passeios, a diversão, a irresponsabilidade a dois. Mas sobre tudo o direito de escolher o que fazer e quando.
    Criança em casa dita regras e vc se adapta. Sim. Um sorriso paga tudo isso. Mas as crianças nem sabem. Só vão saber quando tiverem trocado de lugar e estiverem noites e noites acordados. É o unico jeito da gente saber o que fez com a vida de nossos pais. Recebendo na mesma moeda. E não é que, mesmo assim, vale á pena? Não troco por nada. Mas, se pudesse, teria sido pai pelo menos uns 10 anos mais cedo. Tô com 45 e preciso viver mais uns 25 pra encaminhar a vida da minha filha. Justo eu, que nunca imaginei chegar aos 60.
    É assim:depois da paternidade, a gente sai do centro da nossa própria vida e passa a providenciar a vida de outrem. E a gente faz de coração!

  7. Carol Viana disse...
  8. O problema da mulher é que ela tem que ser TUDO! Tudo ao mesmo tempo agora. E se fosse antigamente as cobranças seriam outras.Há civilizações que valorizavam a mulher acima de tudo na história antiga. Ao longo dos séculos, vimos o machismo imperar. O que acontece é que também tem o lance físico. Eu sou uma das que vive pensando: E aí, não vou ser mãe? A gente acha que essa cobrança toda é da sociedade, da família, do outro. Mas o relógio apita mesmo dentro da gente. E cada vez mais o dilema se reforça. Será que somos tão valentonas assim? Estou do lado das que ainda não tiveram seus filhos. E aí vem os dilemas, a barreira dos 35 anos. Mesmo que vc queira adiar, esperar o tal momento certo, seu corpo não espera. Lidar com isso é complicado, sim. Bom ler esse texto e ver que tem quem compartilhe e entenda... beijos.

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