Todo mundo deveria

Me pediram em poucas palavras
para que escrevesse sobre o que me faz bem.
Que meus textos andam densos demais
e seria bom ver densidade em algo bom.
Mas às vezes aquilo que faz bem
pode não ser algo bom.
Muitas vezes só faz bem
justamente por não ser bom.

Uma mão encaminhada, dirigida, guiada
durante um beijo
é algo que me faz bem.
Encaminhada a conhecer
a rigidez de um seio excitado
descendo pela barriga para invadir a calça
que guarda uma calcinha molhada,
sentida com a ponta dos dedos
que invadem convidados a sentir a pulsação
da buceta
é algo que me faz bem.
Toda mulher deveria guiar as mãos
de seu homem, de sua mulher.
Guiar a conhecer o seio excitado
a calcinha molhada
a pulsação na ponta dos dedos.
Pode ser por cima da roupa
não tem problema.
Mas se for por baixo
que molhe os dedos em sua língua
antes.

Dedos entrelaçados no cabelo
agarrando a cabeça,
mãos que controlam a pressão
barrando o avanço da boca que
abocanha o sexo,
pernas travando essa mesma cabeça
ensurdecendo os ouvidos e
interrompendo a luz que ilumina
os pêlos na penumbra
é algo que me faz bem
também.

Cerveja servida num corpo suado
melado
abusado
molhando o lençol torto na cama
acompanhada de um tapa
na cara
ordenando que nenhuma gota
seja desperdiçada
é algo que me faz bem.
Jogar alguém contra a parede
ou atirá-la na cama, tanto faz
tirar a calcinha de lado
e penetrar sem esperar aprovação
também.
Porra, as pessoas deveriam foder mais
usando roupas.

Nucas, ombros, costas e pescoços,
gelados pelo suor evaporado,
convidando dentes a morderem
e unhas a unharem
e línguas a lamberem
e bocas a beijarem
e bocas e línguas a sugarem
e chuparem
me fazem bem.
Gritos de “filho da puta”
ou urros de “caralho, me fode”
também.
Todo mundo deveria
xingar um ao outro
durante a foda.

O silêncio que antecede
o gozo.
O silêncio que sucede
o gozo.

Mas às vezes aquilo que faz bem
pode não ser algo bom.
Muitas vezes só faz bem
justamente por não ser bom.