Nojo de vocês

Entrincheirados em seus pilares morais
sujos pelos pecados que apontam
quebrados pelas pedras desferidas
que batem e voltam
nas suas próprias testas.

Cansado de suas convenções familiares
onde sempre o alheio é pauta vigente
onde sempre tragédias acontecem aos outros
onde sempre o viado é o pecado
onde sempre a puta é a pecadora
onde sempre o corno é o coitado do bar
onde sempre a infiel é a vizinha.
Convencionou-se nesse seio petrificado
que a puta sempre será a vizinha de trás
que a biscate sempre será a filha do João
que o viado sempre será o irmão da Maria
que o infiel sempre será o bêbado do boteco.

Vocês me enojam semanalmente.
Apagam o passado miserável e
projetam um futuro estruturado em
bens materiais pois perderam
os bens sociais com o tempo que
perderam falando daqueles
que perderam os bens morais.
Tudo, claro, em suas
ignorantes opiniões.

Sentam-se em seus bancos
recém-envernizados,
comem suas comidas
recém-temperadas,
esquecem-se de suas mazelas
recém-imaculadas,
e olham-se uns para os outros
recém-enganados.

Não se olham, apenas se vêem.
Não se tocam, apenas se encostam.
Transformam medo em respeito
ao esconderem o advento
de infiéis, prostituídas e homossexuais
no seu reduto convencionado.

Viados são os outros. Putas são as outras. Infiéis são os demais.

Escondam suas foices morais
pois chegou o obsceno marginal

que os observa de longe

e lê notas de velhos safados

e ouve Velhas Virgens

e que irá trabalhar no sangue jovem
desta convenção
para que jorrem o coagulado velho e
olhem com o mesmo
nojo
que o obsceno marginal
olha.

Eles olharão.
E os viados seremos nós. E as putas seremos nós. E os infiéis serão vocês
por não fazerem parte da nossa nova
convenção.
E sentirão nojo de nós.
Quid pro quo.