Ode à doença

Posted: | Por Felipe Voigt | Marcadores:
Escrevo poemas, prosas, contos que ninguém lerá.
Se escrever é esquecer, Fernando Pessoa,
com sua licença, então, mas hoje
sofrerei de amnésia.

Um milhão de vidas ignorei ao escrever e
ignorarei outro milhão enquanto viver.
Se o poeta é um fingidor, fingirei quantas vezes
preciso for.

Nossos corpos quebram nossas fronteiras,
mas continentes emocionais
nos afastam fisicamente, constantemente.
Por que você mente?

Ainda me impressiono com o poder
que depositei em suas mãos,
a ponto
de uma linha ferir mais que uma lauda
e um suspiro minar ainda mais o ar represo.

Antes tivéssemos problemas tão banais,
comuns ao olhar alheio, mas nosso amor é
nada, nada, nada convencional.

Preciso te esquecer pois estou morrendo.
E morrerei. Mas tenho de vida menos do que já vivi
e não posso perder tempo sobrevivendo,
esperando, enganando, chorando.

Tenho sede e pessoas são minhas leituras em braile.
Fico fora de mim com sua procura mas ainda prefiro
minha renuncia. Ser intenso é difícil e é tão difícil dizer não

Ah, esse dilaceramento do passado batendo
a minha porta, mas voando pela janela.
Diz que sente a falta, mas não fará falta o que sente.

Perdi a conta de quantas vezes te disse
nunca mais e quantas vezes mais voltei atrás.
Brincarei de viver um amor por vez e
você perderá sua vez, um dia.

De mentiras e neuroses me enchi
mas és uma delícia e eu tenho que parar.
És meu ode a doença e preciso me jogar
para me livrar dessa doença.

Me joguei em busca de uma nova corda
ainda ausente de nós e agora estou em queda livre
com duas cordas, uma infectada, outra saudável.
Terei o pescoço envolto por uma delas.

Uma corda de salvação,
mas ainda sendo armada
Outra corda insegura, ciumenta, mentirosa
Que não sente e apenas inventa e inverte.

Entrarei em ebulição quando a saudade ascender.
Mas é da corda mais deliciosa, com um cheiro maravilhoso,
onde dormimos encaixados, deliramos e somos depravados,
que sinto mais falta.

Em matéria de amor, não há
fórmulas eficazes,
apenas paliativos aplicáveis.
Vou me livrar. Deixar de amar.
Puta doença filha da puta.


* (dedicado à uma amiga enforcada)

3 comentários:

  1. Bruna Salis disse...
  2. Amiga enforcada?
    Suas palavras são muito intensas. Elas afrouxam ou apertam a corda do enforcamento?

  3. Carol Viana disse...
  4. Intensidade deveria ser teu nome do meio....

  5. Anônimo disse...
  6. Tanta intensidade...a corda se soltou ou apertou?
    Pensando aqui...
    Beijos

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