Não nos educaram para o sofrer

Posted: | Por Felipe Voigt | Marcadores:


Miseráveis

Não consigo escrever quando estou bem.
Clichês positivistas sempre me soam como ilusão
auto-imposta no afã de se ver livre dos fantasmas
que povoam nossos corredores emocionais.

Descobri cedo demais que não nasci pra perseguir a felicidade.
É frustrante demais.

Preciso da dor,
da miséria,
da injustiça,
da melancolia.
Preciso estar iludido para escrever.

É da essência humana ser miserável.
Por isso sofrimento nos parece mais real
do que alegria estúpida e desenfreada.
Isso acaba. Dor não.

Precisamos que nossas costas estejam
sob o peso do mundo,
que nossos ombros doam ante o flagelo e
nossos joelhos dobrem, cansados.

Só aprendemos a viver quando nos sentimos
injustiçados por algo ou por alguém.

Precisamos da desistência do outro,
da abdicação alheia,
precisamos ver o afastamento
e sentir a falta.

A felicidade não existe.
E não existe porque ela nos desarma.
Nos deixa expostos.
Nos rebaixa e
nos subestima.

A dor, não: ela é real,
nos deixa alerta,
nos faz levantar a guarda,
nos preserva e
nos recolhe.

Todo miserável superestima sua mazela
porque sua mazela o superestima.
É uma troca lenta e agoniante.

A alegria e a pseudo-felicidade podem trazer boas companhias,
mas apenas a miséria traz as mais leais e reais.
Amigos de miséria: uni-vos!


2 comentários:

  1. Isabel disse...
  2. Adorei o texto... eu, como boa miserável que sou, me identifiquei com tudo.

  3. Anônimo disse...
  4. Sabe do que gosto em seus textos?
    Do seu sentir,menino,teu sentir é aflorado...sua sensibilidade é tamanha,como deve ser teu coração...
    Beijos moço..

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...