Nascidos disto, crescidos nisto

Nascidos disto,

desta inconstante vontade

de se conter o que se sente

na víscera de alma gélida

crescidos nisto,

nesta angustiante dúvida

sobre o que se deve ser

o que se foi e o que se é

Nascidos disto,

neste choro contido pelo

orgulho recém rasgado tal

lâmina virgem na pele violada

crescidos nisto,

nesta prisão fechada

pelas lágrimas salgadas

temperadas pela desilusão

Nascidos disto,

nesta sufocante busca

pela compreensão da dor

que precede o soluço amargo

crescidos nisto,

neste imenso vazio

repulsivo que faz a voz

se esvaecer sem que se queira

Morridos disto,

agora vítimas da pretensa

fuga cega do algoz faminto

e do vil efeito inebriante

definhados nisto,

no escuro do silêncio

da próxima gota caída

do último olho aberto

Nascidos disto

crescidos nisto

morridos disto