Encosto em frente a agência, na vaga de idosos. São quase dez da noite, não tem problema. Desço vestindo apenas uma bermuda, chinelos e camisa. A noite é fria e o vento também. Nessa hora é bom ter cabelos até os ombros. Pelo menos protege a nuca.
Ao tirá-lo do rosto para sair do carro, noto uma mulher na esquina da agência. Parece esperar alguém. Não vejo seu rosto, uso apenas o olhar periférico. Mas ela pareceu me ver.
Entro. Cinco minutos depois, saio. O depósito não foi feito. Xinguei o filho da puta antes. Segue toda aquela lenga-lenga frustrante de sempre. Ao sair, a mulher ainda está na fria esquina. Continuo a vendo pela periférica. Em sua frente, uma praça escura iluminada. Dentro do carro, ligo o blues. Demoro pra sair. Exatas duas músicas que não sei quais eram. A mulher continua na esquina, sem parecer me notar no carro. Eu ainda não vi seu rosto. Ela parece procurar algo enquanto espera algo.
Um carro encosta. Rebaixado, décadas de uso. O vidro escuro do passageiro desce. A mulher da esquina segue até ele. Debruça na porta com o vidro aberto. Rola um papo de 15 segundos. Ela tenta abrir a porta e não consegue. Pensei: esse filho da puta vai aprontar. Não aprontou.
Sem que eu veja seu rosto, ela entra e o carro sai. E eu saio, dentro do meu carro.
De qualquer forma, a noite não acabou bem para nós.
1 comentários:
A noite não acabou bem....
As coisas que fazemos por dinheiro... só que posso falar?
As entrelinhas falaram muito mais do que o significado etmológico de prostituição...
Tá parecendo um conto...
Sua habilidade com as palavras deu um tom ambíguo ao texto.. e sim .. todos nos postituímos de um jeito ou de outro...
Beijo de quem só quer que o dia termine bem....... a noite... whatever..........
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