Ela é apenas uma mulher, caralho...

Posted: | Por Felipe Voigt | Marcadores:

* Aperte o play e ouça a música enquanto lê o texto...


Poucas coisas me causam mais revolta do que a agressão física que alguns homens praticam contra mulheres. A cada novo relato que tenho acesso, mais me preencho de intolerância a esse tipo de ato.

Sempre me pego pensando: o que leva um homem a agredir uma mulher? O que o faz se sentir tão superior a ponto de achar que um hematoma irá confirmar essa sua auto-proclamada superioridade? A resposta que tenho é: a real razão dessa agressão é o seu profundo sentimento de inferioridade!

Um homem que bate em uma mulher não o faz para provar ser superior: faz para se sentir maior que o sentimento de ser inferior perante uma mulher. A agressão é a forma que eles encontram para fugir da realidade deprimente em que vivem! Não aceitam a sub-condição imposta a nós, homens: a de existirmos para servir a entidade feminina! Todo o restante é apenas consequência dessa condição...

Psicologicamente perdemos qualquer batalha contra uma mulher. Sua aparente fragilidade emocional é sua maior arma: nos sentimos no dever de cuidar e proteger! Com isso, elas conseguem tudo o que merecem e nós nos sentimos bem por prover tais necessidades. É o sentimento mais narcisista da relação entre homem e mulher: fazemos bem para nos sentirmos bem. Fazemos bem para nos provar que somos foda em fazer um bem... complicado pra caralho, mas é assim que é!

O que esses covardes não são capazes de compreender é que tal agressão atinge não só a mulher durante toda sua vida, mas atinge a todos os outros homens que tentarão demonstrar o respeito que ela merece! Os hematomas da pele somem, mas os da alma persistem...

Por mais que haja argumentos para justificar o injustificável, nenhum motivo é motivo para tamanha crueldade. Aquela mulher te causa sentimentos conflitantes a ponto de não raciocinar? Lide com isso, idiota... Ela te faz cometer atos impensados que desperta seu lado selvagem? Soque a parede, filho da puta do caralho...

Mas não parta pra cima dela. É injustiça e covardia demais se sentir nessa posição: a de ser atacada por alguém fisiologicamente mais forte do que você! Mesmo que ela tenha provocado a ponto de duvidar da sua "masculinidade", seguir não te fará um homem: te fará apenas um verme!

Não tente entender o motivo, mas me sinto profundamente decepcionado em ser colocado na mesma categoria que covardes que se atrevem a bater em uma mulher. Esse texto não faz sentido a você, apenas a mim. Estou aqui conversando comigo, indignado com situações como essa. A indignação e revolta é tanta que não consegui controlar: precisei vir ao meu pequeno divã virtual!

Nada me machuca mais do que um choro contido nos olhos de uma mulher. Nada me fere mais do que uma lágrima escorrendo um rosto marcado pela dor. Nada me comove mais do que um desabafo de uma alma que teve sua essência despedaçada por punhos desprezíveis!

Não uso nomes para não legitimar a ignorância de um ignorável... Mas reafirmo: qualquer atentado contra a honra, a integridade física, emocional e psicológica de uma mulher, será considerado um atentado contra as minhas tb!


* Ouviu a música? Primeira música do primeiro disco do NickelBack. Fodona, né? Agora leia sua tradução (by Letras.mus.br)... a pegada dela tem tudo a ver com o que sinto sobre esse assunto!

Never Again

Nunca Mais

He's drunk again, it's time to fight Ele está bêbado de novo, é tempo de lutar
She must have done something wrong tonight, Ela deve ter feito algo de errado esta noite
The living room becomes a boxing ring A sala transforma-se num ringue de boxe
It's time to run when you see him clenching his hands, É tempo de correr quando o vê a apertar os punhos
She's just a woman... Never again Ela é apenas uma mulher... nunca mais
I hear her scream from down the hall, Eu ouço-a gritar do fundo do corredor
Amazing she can even talk at all, Espantoso, ela mal consegue falar
She cries to me... "go back to bed," Ela grita-me ... "volta para a cama"
I'm terrified that she'll wind up dead in his hands, Estou aterrorizado que ela possa acabar morta nas mãos dele
She's just a woman... Never again Ela é apenas uma mulher... nunca mais
Been there before but not like this, Já estive lá mas nunca assim
Seen it before but not like this, Já o vi antes mas nunca assim
Never before have I seen it this bad, Nunca antes eu o tinha visto assim tão mal
She's just a woman... Never again Ela é apenas uma mulher... nunca mais
Just tell the nurse you slipped and fell, Diz á enfermeira apenas que escorregaste e caíste
It starts to sting as it starts to swell, Começa a picar assim que começa a inchar
She looks at you... she wants the truth, Ela olha para ti... ela quer a verdade
It's right out there in the waiting room with those hands, Que está bem na sala de espera com aquelas mãos
Lookin' just as sweet as he can... Never again Parecendo o mais doce que pode... nunca mais
Seen it before but not like this, Já o vi mas nunca assim
Been there before but not like this, Já estive lá antes mas nunca assim
Never before have I ever seen it this bad, Nunca antes eu o tinha visto assim tão mal
She's just a woman... Never again Ela é apenas uma mulher... nunca mais
Father's a name you haven't earned yet, Pai é um nome que você ainda não mereceu
You're just a child with a temper, És apenas uma criança com mau temperamento
Haven't you heard "don't hit a lady," Nunca ouviste dizer "nunca batas numa senhora"
Kickin' your ass would be a pleasure Acabar com você seria um prazer
He's drunk again, it's time to fight, Ele está bêbado de novo, é tempo de lutar
Same old shit just, just on a different night, É a mesma merda, só que numa noite diferente
She grabs the gun, she's had enough, Ela agarra na arma, ela fartou-se
Tonight she'll find out how fuckin tough is this man, Esta noite ela vai descobrir quão durão é este homem
Pulls the trigger fast as she can... Never again Puxa o gatilho o mais rápido que pode... nunca mais
Seen it before but not like this, Já o vi antes mas nunca assim
Been there before but not like this, Já estive lá mas nunca assim
Never before have I ever seen it this bad, Nunca antes eu o tinha visto assim tão mal
She's just a woman... Never again Ela é apenas uma mulher... nunca mais

9 comentários:

  1. Maria Thisted disse...
  2. Felipe, entendo o que dizes, mas questiono aqui se uma via de começo desta violencia nao passa pela crença do Tapinha nao dói...
    Tem muita gente que mistura e o que começa num "tapinha" em certa medida reitera a logica cretina: Mulher gosta de apanhar...Será que nao?
    Nao me interprete mal, mas assim como te leio pra cutucar minhas posições espero que a reflexao que te proponho seja de alguma forma positiva.
    Um abraço com carinho,
    Maria Thisted

  3. MCláudia disse...
  4. Esse texto é bem pra enfiar o dedo na ferida, não é?
    Eu concordo plenamente com vc, Felipe... Inclusive, por mais difícil que seja relembrar ou admitir isso, já me vi nessa situação e sei o quanto é complicado. Não por aquela desculpa esfarrapada de "mas eu amo ele e ele nunca mais vai fazer isso"... Mas pq quando a coisa já tomou essa proporção, as ameaças e o medo são gigantes.
    Nunca ninguém havia levantado a mão pra mim e me vi, de repente, na frente de um bêbado louco, que surtou e resolveu despejar todos os problemas mentais dele em cima de mim! Mas eu já devia ter percebido que uma hora isso ia acontecer... Ele, por muitas vezes, era agressivo, mas com palavras, apesar de nunca ter me ofendido. Levantava a voz e tal... Num belo dia, achou que eu era a culpada por tudo de ruim da vida medíocre dele e resolveu acabar com aquilo... De tão assustada, não tive reação...
    Graças a Deus tive a consciência de sair daquela loucura imediatamente e hoje, não sei se está vivo, morto, ou fazendo oq... Só sabia que eu não queria participar daquilo.
    Num primeiro momento, veio a vergonha... Como eu, uma mulher de 26 anos, formada, que trabalha desde os 18, com um emprego muito bom, uma estrutura familiar fantástica, uma boa situação funanceira, havia passado por aquilo? Era um absurdo...
    Dps de muito esconder o que aconteceu comigo, resolvi conversar abertamente com amigas e vi que eu não precisava sofrer sozinha. Hoje, consigo falar sobre isso sem me sentir a pior das mortais, apesar de nenhuma das feridas que ele fez na alma terem cicatrizado...
    Só sei que hoje não permitiria nem falta de educação comigo... Respeito é tudo.
    Obrigada pelo texto.. É, no mínimo, reconfortante.

  5. Felipe Voigt disse...
  6. Maria Thisted: sua alegação de que a cultura do "um tapinha não dói" instiga isso é totalmente infundada. Uma mulher submissa sexualmente não quer dizer que seja uma mulher submissa socialmente.
    O pai dessa frase, "elas gostam de apanhar" discordaria de vc. Nelson Rodrigues já explicava sobre questões fetichistas há décadas e nem por isso foi um incentivador de pseudos-machos a partirem para ofensivas conta mulheres...
    Jogos e posturas sociais são feitas por conveniência mútua e apenas ajudam as relações a ficarem mais aberta, mais honesta, mais real.
    Em momento algum um tapa desferido na cama irá promover um tapa fora dela. Aquele que pensar assim, precisa rever fortemente seus conceitos sociais e, principalmente, sexuais...

  7. Felipe Voigt disse...
  8. MCláudia: Lidar com o problema como você lidou é o primeiro passo para começar a extirpar ações como essas.
    Costuma-se imputar à mulher a culpa por tais agressões. Numa sociedade patriarcal, ou a mulher provocou tal iniciativa ou é burra por não denunciar.
    Porém, como vc mesma pode conferir, há agravantes que deixam qualquer reação tímida perante o primeiro golpe: questiona-se valores, posturas, sentimentos... todos de uma vez só!
    Não tem pq se envergonhar, uma vez que a vergonha deve ser toda de quem cometeu a agressão.
    Depoimentos como seu podem e devem abrir os olhos para que outras não pensem que "isso nunca mais vai acontecer". É preciso execrar publicamente o idiota!

  9. Lorena disse...
  10. Acrescento a sua total indignação, a dor que carreguei anos no peito por ter presenciado por várias vezes, quando criança, uma violência direcionada a mim mas bravamente absorvida por uma mãe, que como uma Leoa defende suas crias. Os anos passam e realmente as feridas cicatrizam mas e a certeza de que você irá fracassar nos relacionamentos? E a insegurança? Tudo somado a tal certeza de que não os homens são incapazes de amar.
    Um belo texto. E uma grande luta.
    Abraços.

  11. Anônimo disse...
  12. Essa é muito boa!! Você falando sobre agressão a mullheres. Depois você ainda tem a cara de pau de chamar os outros de demagogo tsc, tsc, tsc.

  13. Mi* Aranha disse...
  14. Vc ñ tem idéia de como é difícil passar por isso! Eu passei, me recuperei, mas confesso q tenho medo...afinal quem bate esquece quem apanha não!
    Adorei o texto!
    Obrigada por ter verdadeiros olhos a um problema tão sério!
    Bjooo super Freud!

  15. Ana Cantoo disse...
  16. Essa violência que surgi dentro de casa entre o pai e a mãe. Muitas vezes influenciam os filhos. Quando há um grande diferença de idade entre o irmão e irmã isso pode causar feridas que nunca cicatrizarão. O irmão pode não ter noção da sua força e com a violencia acaba separando um laço tão importante em nossas vidas. Se há imparcialidade dos pais e violência de um irmão, o quê um inocente e fraca menina poderá fazer??
    Por muito tempo procurei essa resposta... Mas agora é tarde e as feridas já estão aqui..

    Parabéns pelo texto ;)

  17. Sílvia disse...
  18. Cheguei ao seu blogue, pois estava querendo encontrar na net histórias parecidas com a minha...
    Meu namorado é alcoólatra e, costuma exagerar na bebida uma vez por mês e é quando fica agressivo e começa a me xingar. Nunca me bateu, exceto pelo que aconteceu há uma semana atrás, quando ele me empurrou e tentou me dar um soco, mas, de tão bêbado se desequilibrou e correu assustado quando eu gritei "socorro".
    Após isso, terminamos. Nem encontrei com ele depois disso. Moro sozinha e tinha algumas roupas dele em minha casa, que entreguei à mãe dele. Ela chorou, pois sabe que o filho é doente.
    Sei que ele é doente também, e ele também sabe, vai ao AA e frequenta um grupo de ajuda para alcoólatras em uma igreja. Mas, não consegue parar e mudar
    Depois desse episódio, eu resolvi mudar e o que me ajudou muito foi que estou há pouco mais de um mês frequentando um grupo de ajuda para mulheres, o MADA (Mulheres que Amam Demais Anônimas).
    Não quero mais nada com ele, apesar de estar sentindo falta de alguns momentos... Mas, sei que esses momentos vou ter com qualquer outra pessoa que me respeite.
    Ele é uma pessoa sóbrio e outra bêbado, mas hoje sei que ele é um só, ou seja, a junção desses dois, então, não quero ele mais e me forço a não sentir falta de nada. O que me ajuda nisso é o ódio que tenho por ele. Ele me humilhou, me desrespeitou e me destratou. Ele não me merece. Eu gosto mais de mim. Muito mais!

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