O Papa precisa calar a boca

Posted: | Por Felipe Voigt | Marcadores:
O que se espera de uma religião?
Que ela te ensine entender sua sociedade e seus indivíduos, incluindo você mesmo. Que ela te traga respostas, alívio, compreensão e acalento. Que te faça conviver com as diferenças e que saiba apreciar a individualidade do ser e do meio em que sobrevive e com isso te transformar em alguém melhor, mais tolerante, mais saudável.

E o que se espera de um líder religioso?
Que ele saiba conciliar os fundamentos de sua doutrina com os interesses sociais e atualizá-los. Que lidere os pensamentos de sua fé com coerência e sabedoria para se adaptar aos tempos atuais, sempre pautado no bem estar do indivíduo e da sociedade, sem deixar que um suplante o outro. Que enxergue os ventos da mudança e os acompanhe sem se distorcer.

O que leva, então, o líder de uma das maiores religiões do mundo a abrir a boca e dizer uma das maiores sandices que já ouvi na vida? Sim, veja o que o Papa disse sobre o casamento entre homossexuais:

O papa Bento 16 disse que o casamento homossexual é uma das várias ameaças atuais à família tradicional, pondo em xeque "o próprio futuro da humanidade".
Leia a matéria completa.


Ameaça o futuro da humanidade ou o futuro da religião como ele conhece?
Qual é, afinal, a função de um Papa? Representar uma igreja que prega o amor de um Deus, certo? E como esse amor pode ser tão radical e separatista? O que o catolicismo espera atingir e agregar quando seu líder diz coisas que vão de encontro e não ao encontro do que a sociedade vive e carece? Molda uma parcela da sociedade ao separatismo, à intolerância e ao repúdio aos que diferem. É errado!

Ele condena uma sociedade ao ralo com esse poder que não tem condições de usar. Isso é aterrorizante! O discurso de um Papa afeta diretamente a sociedade em que você vive. Ainda há quem leve sua prosa como lei divina e quando um Papa prega essa intolerância de forma até violenta, incita outros a agirem igual e a coisa cria eco, toma proporções assustadoras. Muita gente que te cerca vai achar que por ter sido o Papa a ter dito, é o mesmo que Deus falando e deverá acreditar sem questionar. E muitos agirão em nome desse Deus intolerante, separatista, xiita e arrogante que o atual Papa tenta pregar.

Esse é o mesmo Papa que atualizou a lista de pecados, imputando aos seus seguidores mais uma lista de coisas que terão de se confessar e se arrepender. Ao invés de tratar a sociedade com as particularidades que cada uma tem, apenas impões regras e sanções, nivelando todos os povos e culturas em meia dúzia de preceitos e pecados.

Como convencer um jovem a frequentar uma igreja que condena aquilo que ele olha como algo natural e que envolve amigos e parentes? Convença um jovem a freqüentar uma igreja que condena o seu irmão que namora um amigo seu. Diga a ele que é errado sua amiga namorar aquela sua prima. Pegue-o pelo braço e diga isso e o convença a se confessar, por exemplo, por viver nesse mundo pecaminoso em que homens amam homens e mulheres amam mulheres. Não, ele não irá se confessar por algo que ele não sinta ser errado.

As confissões na igreja estão caindo com veemência nas últimas décadas justamente por isso: não há acolhimento do indivíduo que destoa da doutrina. Ele é colocado como pecador que deve se perdoar e se redimir simplesmente por ser diferente? Como alguém que sente atração por uma pessoa do mesmo sexo deve se confessar pedindo perdão por amar diferente, mesmo sendo um amor igual? Há como qualificar e diferenciar o amor nesse caso? A igreja tem esse poder? O Papa tem esse dever? O papa não passa de um xiita! O Papa é um Malafaia!

Estamos vivenciando o começo de uma nova era onde a sociedade se compõe de fragmentos. Cada fragmento é uma minoria, um grupo, um pensamento coeso e que agrega seus pares para que possam viver sem que um ameace a existência do outro. Cada fragmento está se baseando em preceitos morais e sociais de bem-comum, sem que haja intolerância ou supressão dos direitos individuais daquele nicho, onde as minorias são coesas, se encontram para encontrarem forças e coexistirem sem máculas, dogmas ou paradoxos.

Haverá tempos de discórdia, mas teremos uma era de coexistência entre aqueles que antes eram renegados à tangente de uma sociedade que insiste em se rastejar para este novo milênio. Novos conceitos estão sendo criados. Conceitos de liberdade e de direito a existência. Conceitos que mostram que a religião, por ter sido criada pelo homem, é natimorta se não se adaptar e se atualizar. Nenhum preceito moral é impassível de mudança.

Mas confesso que tenho medo de discursos assim.

6 comentários:

  1. Camila Silveira disse...
  2. Belo texto! Me desliguei da igreja católica por não termos pensamentos parecidos. Uma religião que, na minha humilde opinião, já nasceu errada, nos mostrando um Jesus santo, divino, praticamente não humano, que morreu pq vc vai pecar, e já te dá uma lista de pecados a não serem feitos. Se não tiver na lista, pode fazer. Eu entendo que, se ele morreu pelos meus pecados, então eu não precisaria confessá-los e sofrer as penitências. Acredito ser por esses e outros motivos que o catolicismo perde membros com maior frequência, por serem intolerantes, cheio de regras e desatualizado. Ao mesmo tempo que relembra o nosso livre arbítrio, nos condena por usá-lo. Hoje cada pessoa deve ir atrás de uma religião/filosofia/crença que mais lhe agrada e com a qual se identifica, onde se sinta bem em ser diferente, em ser ela mesma, e essa busca pode demorar, exatamente pelos conceitos católicos arraigados em nosso subconsciente. O melhor a se fazer é agir de forma que vc se sinta bem, fazendo o bem sempre, pra ele retornar pra você. Algumas pessoas simplesmente não precisam de um líder definido, pois sabem exatamente o que fazer. Quem falou que precisamos ter uma religião para sermos felizes? Se estamos bem sem, ótimo, isso é o que importa!
    Abraços

  3. juliana disse...
  4. Amor, é o que menos tem sido exercido e lembrado por parte destes humanos cheios de dogmas... Amar o acessível e o compatível é muito fácil! Quero ver as pessoas amarem o diferente, o que vai contra suas crenças e verdades. A religião castra a capacidade das pessoas de pensarem livremente, tornando-as limitadas em suas ações e suscetíveis à opiniões e ensinamentos duvidosos. Muita gente tem encontrado alicerce nos ensinamentos do Papa, Malafaia, entre outros, para praticar intolerâncias mascaradas de "bons valores" . Acho o fim. Quem necessita de crença para ser altruísta e benevolente, só está querendo justificar a sua indiferença. Parabéns pelo texto!Fico contente quando vejo atualizações do blog lá no facebook. Seus textos me fazem pensar por horas...

  5. juliana disse...
  6. Compartilhei.

  7. A VIDA É UM ETERNO APRENDIZADO disse...
  8. Olá.
    Simplesmente maravilhoso esse seu blog.Dizes o que pensas.
    As palavras muitas vezes significam além de uma vida.
    Que você seja sempre abençoado com suas ideias e pensamentos.
    Grande abraço
    se cuida

  9. I'm Eternal disse...
  10. oI Felipe, fiz um "vídeo" me baseando em posts do seu blog. Esse é o link do meu canal

    http://www.youtube.com/user/MOULEKE?feature=guide


    se não der procura por "Seres humanos, finalmente, são animais em extinção."

    Dá uma olhada e qualquer problema tu me avisa que eu resolvo. ABraço

  11. I'm Eternal disse...
  12. MEU EMAIL É c1988@hotmail.com

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