Pobre prosa sóbria

Posted: | Por Felipe Voigt | Marcadores:
A vontade de me calar me fez recorrer à escrita. Pensei em escrever um poema, mas iria me repetir de novo, novamente. Tentei recorrer ao conto, mas não seria publicado. O desabafo muito implícito deixaria o silêncio mais ensurdecedor ainda. Apenas abri uma página branca e passarei a manchá-la com palavras. Sem intenção de ser lógico ou racional. Sem pretensão de ser bonito ou genial. Apenas para manchar o branco virginal da página. Às vezes funciona, muitas vezes não.

Já não sei aonde mais ir ou ao que recorrer. Bares e braços se fecham, bocas se calam, beijos se cessam, amores se esvaem. Há sempre alguém mas nunca ninguém. Nunca um alguém, aquele alguém que ninguém sabe apesar de saberem. Eu não sei mais. Sei que sei de algo, algo que sinto, mas sinto que não compreendo...

O amor não traz plenitude, não devolve a harmonia. Amor não traz paz nem traz distração. Se busca por isso, deve-se ter alguém que não te ame ao teu lado. Amor machuca, confunde, arde e consome. Amor não se ausenta, não se cala, não permite a distância. Errado quem pensa que amor é deixar ir. Amor requer presença, mesmo que apenas do lado de dentro e não ao lado. Deixar ir é ser covarde, assim como aprisionar é acovardar-se.

Amar permite a ausência mas não a inexistência. Amar tolera a concessão mas não a omissão. Triste daqueles que optam por amar entre aspas.

É segurar o peso através de arames escaldantes e farpados, que envolto nas mãos apenas fazem doer e sangrar. Mas o peso vale a pena ser suportado. Agarra-se com as mãos mas segura-se com a alma. A pele mal sangra, mas a aura se ensangüenta. E a lágrima apenas ilumina o caminho do sorriso por não ter desistido quando o mundo todo já teria sucumbido.

Quando se alcança um mínimo de harmonia interna, o estado de vigília passa a ser menos penoso... É uma busca pela normalidade perdida. A harmonia, a vigília, o velar, o zelar... conceitos que nunca se dissipam, tampouco se modificam. É o velar de almas sem velas, navegando no escuro da saudade, atingidas pela tormenta do desejo.

Os momentos de solidão serão aplacados se suportados.

Apenas se cale... calar-se não é deixar de sentir, nem apenas ressentir.
Apenas se cale. Zele pelo velar, vigie o sentimento.
Mas quem vigia o vigilante?
Quem zela o zelador?
Quem?

3 comentários:

  1. Anônimo disse...
  2. "Quem zela o zelador?
    Quem?"

    Talvez a "mulher invisível" que ninguém vê, nem você que pensa que ela está ausente, o você que só sente, mas não compreende?

    Viajei?

  3. UniLson MaNgini jR disse...
  4. Uia, mandou logo um "Who watches the watchmen?'

    Além de escrever bem, tem uma ótima referência de hqs!

  5. Juliana Santos disse...
  6. Gostei muito!

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