Conceitos revistos, luzes refeitas

Posted: | Por Felipe Voigt | Marcadores:
Qual o efeito colateral da vida?

Conceitos... Sombras que ficam no seu pé o dia todo e mudam com a luz recebida. Quanto mais escuro, mais disformes ficam; quanto mais claro, mais definidos se mostram.

Mas há sempre alguém que chega botando luz na sua vida de forma tão intensa e avassaladora
que você simplesmente perde sua sombra, esquece seus conceitos. Enquanto os olhos não se acostumam, você fica sem reação, não sabe o que pensar, tem medo de se mover e não tem onde se apegar.

E te cega tanto que só consegue enxergar com clareza depois que essa luz se afasta e traz de volta a penumbra prévia. Quando os olhos voltam a enxergar o ambiente, percebem que precisam da luz, mas de uma forma mais contida, mais controlada, mais iluminadora e menos ofuscante.

Assim são as relações interpessoais. Lutamos por anos contra a luz, lutamos por anos tentando iluminar alguém... E só é possível essa troca quando há um distanciamento saudável para ambos. Um conceito não pode ter a pretensão de mudar um conceito no outro, uma luz não pode querer sobressair outra. Senão faltará sombra para o descanso dos olhos.

O que é possível é rever tais luminárias, revisitar alguns conceitos, adaptar novas distâncias.

Há como ter o conceito de ser parceiro de outra pessoa sem que o peso de uma relação estrague os laços estabelecidos. Às vezes, um casamento ou um namoro apenas irá impor condições que farão com que a luz se apague, que os interesses difusos sejam questionados, que os mundos diferentes queiram se colidir. Tire esse peso, esse fardo, e terá duas pessoas que conseguirão conviver com a luz e a penumbra do outro.

Um dia de sol só pode ser vislumbrado se uma sombra cobrir o Sol por certos períodos, para que os olhos se desfranzam e relaxem. Uma noite de breu só será uma noite acolhedora se tiver uma vela em algum canto te mostrando o lugar seguro em que você está.

O Sol é a vela da Lua. A Lua empresta do Sol sua luz numa distância suficiente para que ela apenas brilhe e não se queime, mas que também não há apague. Não são casados nem há pretensão de serem. Convivem cientes de suas posições: são amigos e não amantes, são parceiros e não cúmplices, são opostos e não diferentes. Mesmo com todo o céu entre eles.

Onde está a bula do viver?

5 comentários:

  1. Carol Viana disse...
  2. Caso encontrasse essa bula, eu a leria de tempos em tempos. Escreveste uma amostra. Texto pra ler repetidas vezes, voltar e reler, voltar e reler... de tempos em tempos.

  3. Lenita de Paula disse...
  4. Eu só consigo pensar na tal "lua iluminando o sol" da música da Paula Fernandes...

    EU BEM QUE VI A LUA ILUMINAR O SOL, né?

  5. Evelyn Paparelli disse...
  6. Quando essa Luz avassaladora se vai de nossas vidas, ou percebemos que temos Luz própria ou nos cegamos de vez!

  7. Fidel disse...
  8. Muitas pessoas quando saem de nossas vidas, a principio levam a luz consigo, outras levam a escuridão que por tempos habitava nossas almas. Por vezes sentimo-nos perdidos, sem chão, por outras, conseguimos enxergar mesmos que pela penumbra aquela luz no fim do túnel.Deveríamos ter o poder de pedir a quem se retirasse de nossas vidas que por favor "NÃO APAGUEM A LUZ AO SAIR!"

  9. Diandra Fernandes disse...
  10. Concordo com a Evelyn. Quando uma luz avassaladora dessas aparece ou ela cumpre o seu papel e acende a luz interna desta pessoa que é a única maneira de ser de fato a luz ou a vela de alguém, porque é só esta luz que pode te iluminar, te guiar, te colocar no caminho certo, no teu caminho ou então ela de tão forte acaba te cegando de vez (por medo do desconhecido, do desconforto do novo, talvez?) que pode te deixar eternamente preso as suas dependências de sempre, as tais fontes imaginárias de luz que são dependências ilusórias, castradoras até, que vêm de conceitos equivocados que vão te fazer agarrar com unhas e dentes estas bengalas iluminadas por achar que o seu brilho vem de lá. E não vem. Nunca vem. Elas só estão lá pra te dar a falsa impressão de que você não pode caminhar com as suas próprias pernas. Mas pode e deve. Porque é só assim que a gente entende que só nós sabemos o que é melhor pra gente, que a nossa "felicidade" é a gente quem faz, não o outro, dentre outras coisas...

    Se você notar e sem me aprofundar, não deixa de ser este tipo de dependência que algumas religiões usam pra manter seus fiéis, eternos cordeirinhos no seu vasto rebanho. Pensa nisso.

    E veja bem, isso não quer dizer que parecerias e companhias ao longo da vida não vão existir, vão, claro, mas pelas razões certas e não por dependência ilusória, não pra se abastecer da luz de alguém. Aliás, acho que é isso que dá uma bela ferrada nas tais relações inter-pessoais...

    And just for the record: muitas vezes as sombras são somente os conceitos equivocados que a gente vai mal aprendendo na vida, como este de que a luz está externamente em algo, em alguém ou no além e, são eles que não nos deixam enxergar a nossa própria luz (aka no meu dicionário como uma parceria da nossa essência com a nossa intuição).Red herrings, saca?

    FYI: Eu tb conheço uma lua com luz própria, mas ela ainda não conseguiu ver porque anda procurando no lugar errado, porque acha que precisa de um sol pra mantê-la acesa, porque não se enxerga. ;-)

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