I
Esta garrafa que de novo abroAplacará uma sede estranha
Começou na minha entranha
E onde termina não me lembro.
Quanto mais eu uso o cérebro
Menos a razão me acompanha
Talvez seja mais uma façanha
De um amor que não celebro.
Tantas adagas me perfuraram
Tantas adegas me derrubaram
Que desisti e cansei de acreditar.
Pois sempre soube ter sido em vão
Dar tais poderes a um mero coração
Só preciso de outra vida, outro bar.
II
Não há beleza quando me deito no escuro
Nem quando no silêncio igual me silencio
Mesmo cansado e esgotado te procuro
E o velho frio parceiro agora eu renuncio.
Mas a mente me trai, assumo: sou inseguro
E faltando-me o ar, em dúvidas sentencio
Nos braços de outro, em prantos, te figuro
Nem mesmo tu saberias a dor que anuncio.
Culpo tua ausência, onde tudo me confunde
E meu passado inda presente nas penumbras
É foda impedir que essa tormenta me inunde.
Que não te preocupe toda essa minha agonia
Não sou gaiato nessa dor que hoje vislumbras
Estarei vivo, de ressaca, tão logo nasça o dia.
III
Quando a noite chega ao fim, com ela a dor se finda
Vem a sede e a vontade dos teus olhos, coisa linda
Hoje és e sempre fostes o melhor beijo que provei
No teu gozo, na tua pele, como nunca me encontrei.
Perdoa-me a crueldade, acostumando-me estou ainda
Ao lampejo desta nova sensação que a vida me brinda
Sabes mais que todo mundo quanta dor já sufoquei
Mereces mais que todo mundo o conceito que matei.
Só tenho medo de sentir de novo todo frio que senti
Naquele chão não quero voltar, por isso agi como agi
Sabes que me livra, com teu amor, da dor que aprisiona.
É tão somente mais um dia de alguém que se apaixona
Que faz da cerveja uma espada; do vinho, seu cianeto
Se já sentistes tais dores também para ti é este soneto.
2 comentários:
Obrigada... ;)
De poemas com estruturas desconstruídas a sonetos. Sempre lindo!
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