Crescemos aprendendo que todo mundo tem uma alma gêmea, que toda panela tem sua tampa, que toda laranja tem duas metades e que juntas formam um único fruto. Chega a dar nojo, eu sei, mas é assim que somos educados para os relacionamentos.
E por medo de ser uma frigideira destampada, toleramos uma série de fatores nessa projetada alma-gêmea. Relevamos pequenos defeitos, aceitamos pequenas grosserias. E até fingimos que não vemos quando não somos vistos.
Tudo em nome do amor, certo?
Não: errado pra caralho!
Por causa dessa educação sentimental de merda que recebemos é que agimos dessa forma, como crianças chorando desesperadas em busca de colo, sem se importar em qual colo vamos nos afofar. É por conta dessa cultura da panela de pressão do amor que vamos nos sujeitar estar ao lado de alguém que aparentemente não nos enxerga, apenas nos vê. Seremos pequenas mobílias sentimentais dentro do quarto de alguém.
Qual a conseqüência disso?
Uma crescente anulação.
Mas quem não vê quem? Será que é o outro lado que não vê ou somos nós que não nos fazemos ser vistos? Nos anulamos, nos sujeitamos, nos adaptamos... enquanto o outro lado apenas se faz crescer e se apoderar de mais espaços. Chega a ser inacreditável a quantidade de poder que depositamos nas mãos do outro sem que o outro saiba.
E assim segue a relação: um lado jogando e o outro sendo jogado. O lado “poderoso” se impõe, faz joguinhos psicológicos, guerrilha emocional e age com crueldade quase digna de um sociopata. Joga indiretas, faz perguntas capciosas para, logo depois da resposta indignada, ironizar dizendo “mas eu só fiz uma pergunta, não sei por quê se exaltou tanto!”.
Ou é a reincidente situação da amnésia providencial: cutuca, provoca, instiga, abala, magoa e depois finge que nada aconteceu. Acorda com um cínico sorriso no rosto e esquece da batalha pregada e das armas disparadas.
É uma insana batalha.
E uma desgastante artilharia.
Na contagem dos corpos, nos perguntamos: o que ainda estamos fazendo aqui? E não temos a resposta. E é foda não ter resposta quando um mar de perguntas se agiganta ao seu lado. E temos medo das ondas. Não fomos educados para esse surfar.
Por isso nos encolhemos, esperando que o outro lado faça aquilo que não temos coragem de fazer. Mas essa falta de coragem, apesar de parecer um acovardamento, é soberba e denota um ego imenso. Sabe como? Achando que o outro lado não conseguirá sobreviver sem nossa companhia.
A panela se agarrou tanto àquela tampa que criou um laço de coexistência e co-dependência. E nosso ego nos faz crer nisso: realmente achamos que somos a razão da existência do outro. Logo, não poderemos deixar nada destampado. Nos impomos esse fardo a ser cozinhado. Somos muito soberbos e nos achamos mártires por isso. Que idiotice.
Nessa audácia de ser responsável por tudo, deixamos de lado o que somo, deixamos de lado nossas vontades e ficamos ao lado sem saber como reagir. É como se sua existência não tivesse desejos ou razões. E nos sentimos pobres coitadinhos por isso. Coitados, mas ainda assim, bravos heróis hasteando a bandeira da dor de se anular. Heroísmo de bunda!
Todo rompimento gera uma dor. E ela é proporcional ao grau de superação que ela demanda... E por mais que a superação não atinja o mesmo grau que a dor atingiu, entenda que isso acontece por uma simples lei da física: toda dor que funcionará como uma mola propulsora precisará estar no seu grau máximo de contração para que possa projetar o objeto em questão rumo ao seu alvo.
Complicado, não é? Eu sei...
Quem mandou querer chupar laranja?
Relacionamentos vendados (ou) as metades da laranja
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Felipe Voigt
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"Sou a antítese de mim mesmo! Aquilo que me diferencia é o que me escraviza!"
* Editor-chefe de um jornal semanal, já fui produtor e diretor de TV, comentarista politico em rádio, balconista de boteco e o caralho que você imaginar. Só não fui michê por falta de cliente!
* Não estou filiado a nenhum partido político nem tenho pretensões de me candidatar a qualquer cargo público eletivo. Sou somente mais um jornalista metido a falar besteira sobre qualquer coisa!
* Ouço e toco blues, jogo pôquer, bilhar e não estou preocupado com o que vão pensar sobre minhas opiniões aqui escritas.
* Ou seja: FODA-SE!
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3 comentários:
valeu mesmo ogro! =D
Por isso é que eu prefiro chupar manga.
O que comentar qdo já foi dito tudo? Se fossem metades de limão daria para açucarar, adicionar vodka e gelo e brindar! A grande pretensão de ser importante para alguém e a grande dependência disso pra se sentir vivo enquanto esse alguém te mata um pouquinho...
Cheers??!?!?
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