Os Leões de Bagdá

"Enlouquecidos pela fome, quatro leões do zoológico de Bagdá escaparam de suas jaulas durante o fim de semana e foram mortos por soldados norte-americanos. Os leões, que não eram alimentados há quatro dias, saíram de suas jaulas após abrir caminho por um muro destruído".

A notícia acima é verídica e aconteceu em 2003, no auge dos ataques norte-americanos ao Iraque. E é justamente esse fato que inspirou o escritor Brian K. Vaughan a escrever "Os Leões de Bagdá", uma HQ lançada pela Panini esse mês em grande estilo.

Comprei a revista ontem e devorei em menos de uma hora. Leitura empolgante, viciante e que te deixa com um nó na garganta ao chegar no final. Você terá uma perspectiva sobre como esses animais vêem a guerra e, consequentemente, a liberdade.

Safa é uma leoa anciã com um trauma causado ainda jovem e que não quer saber de se ver livre novamente. Diz preferir a segurança do cativeiro à selvageria de viver no seu habitat natural. Logo no inicio, você saberá qual o trauma de Safa.... angustiante!

Noor é a jovem leoa com uma breve lembrança do que era viver fora das grades e que sonha em poder correr livre novamente. Seus confrontos com Safa mostram bem o contraste do sentimento reacionário da jovem contra o conformismo da velha leoa.

Zill é o leão do grupo, que perdeu seu senso de liderança. Domesticado, não se importa se está preso ou solto, desde que alimentado. A imagem que mais sente falta é a de ver o pôr-do-sol. Sua descrição de como o sol é "comido pelo horizonte" é uma das melhores que já vi.

Ali é o filhote que cresceu em cativeiro e não conhece a vida selvagem.

Ao longo da saga, cruzam com dois personagens que, a meu ver, ganham tanto destaque quanto os felinos: uma tartaruga sobrevivente de outra guerra e que vive no Rio Tigre, mostrando aos leões um pouco da realidade que irão encontrar e nos fazendo um questionamento amargo; e um urso que, preso em um palácio, coloca o destino do quarteto quase em cheque, ao mostrar o que seus anos de reclusão fizeram com seu instinto animal.

Leia mais sobre essa brilhante HQ no hotsite que a Panini preparou para o lançamento.
O valor dela nas bancas: R$19,90.

A cor temática das maravilhosas ilustrações de Niko Henrichon é o laranja, ressaltando bem o clima do país durento os ataques, mesclando o sol com a poeira levantada pelos bombardeios. Do caralho mesmo! Eu cheguei a sentir o pó entrando em minhas narinas e os olhos se fecharem com a claridade turva dos ambientes...

Vale a pena. Você irá ler, se questionar e se emocionar... principalmente na cena logo no início em que uma girafa contempla a liberdade após o bombardeio ao zoo. Chocante!