Pergunta simples... resposta nem tanto!

Posted: | Por Felipe Voigt | Marcadores:
Minha querida blogueira camarada Rosana Hermann fez hoje um questionamento em seu blog que achei pertinente trazer pra cá:

O que leva uma pessoa a visitar constantemente o blog de alguém que ela não gosta?

Me coloquei nessa situação, apenas invertendo a mídia: minha coluna do jornal que edito é a mais lida e, proporcionalmente, a mais criticada de Cordeirópolis.

Parei e refleti nos questionamentos feitos pela Rosana no post e não cheguei a uma explicação coerente, de fato. Mas há algumas formas de se tentar compreender o motivo que leva alguém a procurar cada vez mais aquilo que tanto critica e repreende.

Primeira coisa a ser levada em conta: a falta do "cara a cara". Dificilmente as pessoas encontram coragem para criticar pessoalmente uma outra pessoa. Seja em casa, no conforto do sofá, ou numa mesa de bar, as palavras ficam mais fáceis de serem ditas e conceitos mais maleáveis para serem questionados.

Isso porque não há, nesse caso, o confronto de ideais e de idéias. Tudo o que disser, será colocado como verdade absoluta dentro do seu próprio conceito. Por mais que outro possa lhe questionar sobre o que está criticando, será em vão, já que seu rebatedor não é o seu alvo de direito.

Portanto, é fácil entender os culhões que tantos alegam ter quando estão longe! Mas, estranhamente, esses mesmos culhões tendem a sumir no "cara a cara".

Mas como explicar, então, o questionamento da Hermann? Qual o motivo de alguém procurar tanto a leitura de algo que não concorda em nada? A resposta, aparentemente, está numa simples palavra: algoz!

"O algoz simboliza o mal. Ele não é apenas um mortal maléfico - como a essência do cavaleiro negro, esse vilão carrega uma reputação do pior tipo. Por se associar com demonios e diabos e servir divindades das trevas, o algoz é odiado e temido por todos. "
Pode parecer absurdo, mas tudo isso tem tudo a ver com o questionamento. Qual outro motivo a se combater e questionar veemente algo se este não lhe fizesse mal? E muitas vezes, o mal em questão é causado por... você mesmo!

Sim, você! Você que não concorda com o Diogo Mainardi e passa a defender o presidente Lula em cada nova edição da Veja. Ou você que simplesmente entra a cada hora no Querido Leitor para saber sobre o que a Rosana está escrevendo para logo em seguida, criticar... seja o assunto que for!

E qual o motivo de você fazer isso? A definição de algoz acima é clara: essa pessoa que tanto lhe causa revolta, está lhe causando um mal tremendo... por fazer você rever seus conceitos!

Vivemos em uma sociedade extremamente ligada aos preceitos arcaicos e conservadores de anos e anos de criação católica subserviente. Você foi programado a aceitar aquilo que lhe é imposto de forma unilateral, sem direito a questionamento sobre o status quo.

Quando alguém "ousa" a atingir esses patamares que estão enraizados em sua mente, qual a primeira coisa que você faz? Ataca veementemente, pois esse "algoz malígno" está lhe tirando aquilo em que você sempre se segurou, mas nunca teve coragem de enfrentar.

Mas porque, então, essa pessoa lhe faz tanto mal e lhe é tão malígna? Simples: pois faz você se perguntar se tudo aquilo que sempre acreditou é mesmo verdade. E nessa hora, todos os argumentos pró-seu-pensamento caem por chão. Por faltar sustenção... por não haver uma base em que possam ser sustentadas respostas reveladores e confortantes.

Logo após você ter essa consciência, de que seu algoz, na realidade, está apenas te abrindo os olhos para um mundo bem diferente do idealizado por você, o que acontece? Você volta toda sua raiva para essa mesma pessoa... por ter lhe feito "tão mal".

Essa pessoa destruiu, com poucos argumentos, tudo aquilo que você acreditava. E fez com que se enxergasse como um ser atrasado e dominado. Você não gosta do que vê e atira agora contra seu algoz por ele ter lhe proporcionado esse "mal": viver sem seus sonhos impossíveis ou seu mundo perfeito.

E, estranhamente, em um curto espaço de tempo, você se transforma no algoz de seu próprio algoz... transformando-o em vítima, cargo anteriormante ocupado por você!

O texto abaixo mostra exatamente como isso funciona:

"Quem se sente vítima, não se sente responsável e julga-se justificado para cometer qualquer violência contra seus algozes, em nome da justiça. E quando o fazem se tornam os novos algozes daqueles que agora assumem o discurso da vítima, e assim por diante".

"A maldade do algoz nasce do rancor da vítima. O discurso de vítima é usado pelos algozes para justificar sua violência."

"[...]basta um único ou um punhado de espíritos de porco para conseguir destruições espetaculares. Veja-se a Internet. Um novo desenvolvimento requer o esforço cooperado de muitos especialistas em várias empresas, em vários países. E quantas belas iniciativas não chegam a produzir os resultados almejados justamente por não conseguirem mobilizar a massa crítica de boa vontade necessária?"
E, como consequência disso, você passa a admirar esse algoz-vítima. Mas admira de uma forma velada... pois como revelar ao mundo que um ser lhe fez derrubar os muros do pensamento pequeno e mostrou-lhe que é apenas um ser errante, irracional e que tem muito o que aprender ainda? Você o admira pela coragem... mas o repudia pelo efeito causado!

E como a internet lhe dá culhões virtuais para confrontar sem a necessidade do "cara a cara", você sai do seu estado de recepção passiva e passa a ocupar outro posto dentro do processo de comunicação: torna-se o ruído!

Pois apenas irá atrapalhar aquilo que não lhe diz respeito. Caso fizesse, ficaria quieto em seu canto e não iria tentar defender o indefensável!

Se algo lhe fez pensar e questionar seus conceitos, é porque não estava muito seguro deles. Caso estivesse, que diferença faria a você mais um maluco gritando com uma laterna acesa na multidão?

Se está tão ciente de que sua verdade é a verdade absoluta, compreenderá que logo acaba a pilha da lanterna daquele pobre coitado... Mas deve ser duro saber que existem pessoas que estão com uma mochila repleta de Duracell. Como a Rosana, por exemplo!

Critica aquilo que tem muito forte em você e identifica no outro.
Critica pois gostaria de estar na pele do outro, mas lhe falta culhões reais para tal!
Critica pois o outro fez aquilo que gostaria de fazer: soltar-se do trapézio de um circo que pegou fogo há muito tempo!

1 comentários:

  1. Audrey Salatti disse...
  2. Muito bom este texto. Parabéns.

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