O Delito nosso de cada dia...

Posted: | Por Felipe Voigt |
"Delito. Do latim delictu. Fato ofensivo das leis ou dos preceitos do direito e da moral; crime, culpa, falta. Infração de preceito ou regra estabelecida."


O conceito de delito, em todas as épocas, sempre teve duas óticas diferentes: a de quem comete e a de quem acha que não comete. Em todo momento, todos nós estamos sujeitos a cometermos delitos. Graves ou não.

Se atente para uma das definições de delito: Infração de preceito ou regra estabelecida. Vai dizer que nunca fez algo que fosse "contrário" as regras estabelecidas? Tá bom, finjo que acredito!

No trânsito, ao virar uma esquina: você já se esqueceu de ligar a seta? Então cometeu uma infração a uma regra estabelecida. Cometeu um delito!

Olhar e cobiçar uma mulher ou um homem na rua? Isso você já fez? Então praticou um ato ofensivo aos preceitos da moral. Mesmo eu não concordando com esses ditos "preceitos morais", isso ainda é um delito para muita gente!

Ou então votou naquele candidato a vereador ou a prefeito e nunca quis saber como ele está usando o dinheiro público? Aí, meu caro, está cometendo um gravíssimo delito: o de faltar com seu compromisso como cidadão.


Infração de preceito ou regra estabelecida
Essa pode ser a melhor maneira de definir um delito. E de definir também O Delito, a banda não-tão-nova-assim de dois camaradas integrantes das Velhas Virgens: o contrabaixista Tuca Paiva e o guitarrista Caio Andrade. Com Magoo nos vocais e Bruno Tessele na bateria, a banda está esquentando os motores para atacar os palcos no início do próximo ano.

E porquê a banda não é tão-nova-assim? Porque o projeto surgiu em 1993, quando Tuca e mais dois amigos de escola resolveram dar vazão à vontade de tocar.

"Começou comigo e mais dois brothers do colégio: Silvio na guitarra e Rogério na bateria. Como ainda precisávamos de um vocalista, o Silvio nos apresentou o Magoo. Como toda banda de escola, o único som que rolava era nos ensaios de garagem. E pouquíssimas apresentações no bairro, na escola e em festas", diz Tuca.

E assim foram seguindo até 1998. "Esse período rolou bem, tocávamos até que bem pelos bares e casas de show. Mas, coincidentemente, paramos na época em que entrei nas Velhas Virgens".

O projeto continuou no coração dos dois remanescentes (Tuca e Magoo), mas longe dos palcos por longos oito anos. Mas, no ano passado, os dois decidiram que era hora de cometerem O Delito novamente. Voltaram a pulsar na mesma sintonia e passaram a amadurecer a idéia.

"No lançamento do Cuelho de Alice (banda paralela do Paulão, vocalista das Velhas Virgens), eu e o Caio estávamos trocando uma idéia e vendo o show. Foi quando deu um estalo. Nos empolgamos e decidimos fazer o trem andar". Caio chamou seu amigo Bruno para assumir as baquetas e o trem deixou a estação.


O Som
Mas você me pergunta: e o som? Como é o som da Delito? Bem, com a palavra, o pai (ou a mãe, eles não decidiram ainda) da criança.

"No começo, durante a primeira formação, o som era bem mais funkeado. Depois passamos a fazer um som mais pesado, com dois vocais, onde o outro vocalista, Xuxa, fazia a 'voz berrada´. Aagora o lance tá mais enxuto e vai direto no ponto que sempre quisemos: passar um recado forte. Vejo que atualmente as músicas estão sendo compostas respeitando a letra do som. Sempre é uma levada a ver com o que se diz. Assim, estamos mais livre do ponto de vista de estilo, mas mais presos ao contexto da coisa".

O guitarrista Caio acrescenta: "Acho que a idéia é justamente ter uma base forte pra ajudar a letra a mandar o recado. Não acredito que tenha mais ou menos importância uma coisa ou a outra. Uma letra legal precisa de um som legal pra ajudar a ser entendida... e vice-versa. E no caso do Delito, como as letras são de teor político forte a base tem que acompanhar"


As Letras
A composição das músicas fica sob responsabilidade do vocalista Magoo, que busca temas como política e crônicas sociais, fazendo referência a vida urbana: drogas, violência e diferenças.

"O próprio nome já diz sobre o que iremos cantar. Não tem como não falar da realidade do dia-a-dia sem falar sobre delitos. Até porque depende da ótica de quem vê: o rico que está no bem-bom, graças a sonegação de impostos, um delito grave, vê o ladrão como um delinquente, dando a si mesmo um tipo de sursis, como se ele pudesse delinquir e o pobre não", lamenta Tuca. "E fica tudo errado, com ares de que tá tudo bem".

Caio acrescenta: "Acho que a banda vem preencher um pouco essa falta de verbalização do que tá errado. Vejo todo mundo muito quieto e acomodado com a situação. É muito difícil e arriscado ter um som que funcione como 'abre-olhos'... Tem que ter argumento, tem que saber do que esta falando. E nós apenas estamos falando dos princípios básicos de existencia que todos parecem ter esquecido. Um camarada tem que comer, ter abrigo e dignidade. É o mínimo pra se sentir uma pessoa".

O perigo de serem rotulados como uma banda anarquista ou neo-revolucionária não assusta os integrantes. "Me parece que algumas coisas não podem mais ser faladas... Tem que ser gritadas, se não ninguém ouve e continua tudo igual. Em pleno ano 2007, ver gente morrer de fome e de frio é de tirar a paciência de qualquer um", desabafa Caio.

Tuca vai além sobre a rotulagem: "Há um risco de ficar rotulado de boy enrustido pelos menos favorecidos... e de Robin Hood pelos mais favorecidos. Isso é foda! Por isso dou graças a Deus de não ser rico na mesma media em que agradeço o fato de não ser pobre".


Outros sons
Em uma banda que se inicia, é inevitável saber o que acham de outras bandas que se propõem a fazer o mesmo que O Delito. Até porque a proposta não é nova. A própria Velhas Virgens vem desse conceito há 21 anos: quebrar as regras pré-estabelecidas.

"Acho que um monte de gente começa metendo a boca e depois se rende... não vou citar nomes, até porque basta ficar atento a isso e veremos vários exemplos atuais. De quê adianta você meter a boca em algum esquema de grande mídia, por exemplo, e no mês seguinte tá lá, pagando de pop star?", questiona o guitarrista.

Mas aqui cabe um questionamento: o rap, por exemplo, sempre primou por essa critica social e é exatamente por isso que sempre ficou na marginalidade. Passando a mensagem com respeito e clareza, mas sempre marginalizado. Será que essa "marginalização não assusta os integrantes?

Caio responde: "Primeiro que tem um monte de cara do rap que não manteve a postura que tanto pregou. Assim que apareceu uma oportunidade de ganhar um a mais, entrou pra TV pra fazer propagandinha de um monte de coisa. E outra: na minha opinião, se o caminho pra enfrentar todas as coisas que a gente acha que está errado seja a marginalidade, então que seja. Se você não concorda com a política da TV Globo, por exemplo, só vai no Faustão se for pra mandr ele tomar no cu. Ou então você tá se aproveitando de uma coisa que não concorda".


Mais sobre a banda
:: Site oficial
:: Perfil no MySpace
:: Comunidade no Orkut

Entra na página do Delito no MySpace e ouça duas músicas disponibilizadas pelos caras: Sorriso de Criança e Fundo do Poço. Não precisa ter conta no site pra poder ouvir.

Sinta a música e reflita a letra. Aí verá que O Delito não está aqui para falar de amor!

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Sorriso de Criança
Num beco da cidade eu te encontrei
Com olhos estalados, logo eu notei
Uma criança não sabe o que faz
Perdeu a esperança de viver em paz

Quer furar o olho do seu inimigo
Que lhe deixou jogado num beco fedido
E que só pensa nela em dia de Natal
Ou sexta feira santa esses dias e tal
Um porco miserável filho de uma puta
Que ganha seu dinheiro sem suor, sem luta
Que vive tirando o seu cu da reta
Põe a culpa no governo que não cumpre metas

Criança brasileira que Deus te proteja
Nas ruas da cidade, onde quer que esteja
Escuto o teu choro triste e abafado
Tem todos os motivos pra ser revoltado

Mas por um segundo eu pude notar
Um sorriso de criança antes de chorar
Um sorriso

Toda sua fúria dá pra entender
Tudo aquilo que faz é pra sobreviver
Um coisa é verdade: ninguém tem futuro
Vivendo em becos, buracos
Úmido, escuro

A sociedade tem culpa, o governo também
Mas a realidade dói em mim também
Que ainda não perdi minha capacidade
De me indignar com essa calamidade

Que envergonha o pais perante ao mundo
Que considera o brasileiro um povo vagabundo
Mas isso não é verdade, eu fico puto da vida
Uma nação inteira sendo ofendida

Por outro lado eu sei e tenho consciência
Que não se ganha nada na base da violência
Eu só peço pelas crianças saúde e cultura
Que elas tenham uma boa infância e uma vida segura

Enquanto isso não acontece eu lamento em notar
Um sorriso de criança antes de chorar

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Fundo do Poço
Fui até o fundo do poço
E não encontrei nada lá
Diziam pra mim: mundo louco
Mesmo assim eu queria ficar

Importa a felicidade feito uma lua de mel no céu?
Melhor é viver a verdade mesmo que seja cruel

Sou feliz por ser triste
Mas essa não é a charada
Mas vale um choro sentido
Que uma risada forçada

Fui até o fundo do poço
E não encontrei nada lá
Diziam pra mim: mundo louco
Mesmo assim eu queria ficar

Sei que é triste e sombrio mas tem sua inteligência
Melhor que um mundo vazio, sem nada, sem consistência
Sou feliz por ser triste
Mas essa não é a charada
Mas vale um choro sentido
Que uma risada forçada

1 comentários:

  1. Anônimo disse...
  2. Porra!!!!
    Eu achava que vc era bacana...
    Depois que entrei na sua página prá dar uma expiada, vi o tanto q vc é FODA!!!!!!!!!
    PARABENS.....VC É MSM FODA...
    ADORO SEU TRABALHO.....
    BJUSSSSSSSS
    LAURETAAAAAAAAAAAA

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