O cinza da noite

Posted: | Por Felipe Voigt | Marcadores:
Ninguém é feliz às quatro da manhã
A vida não começa às seis
Da manhã

A vida apenas se esvai
às sete da manhã
O mundo apenas gira.
Às oito
da manhã

Abri meus olhos
e minhas retinas perderam
a percepção das cores
Tudo estava cinza, opaco
sem vida, apagado

Nunca a iminência da eminente morte
se agigantou tanto em minha frente
e eu nunca quis tanto esse querer
de poder finalmente morrer

Por onde meus olhos acinzentados olham
só enxergam mentiras e traições
injustiças, rasteiras e mutilações

O desgosto e o nojo das ambições
que rastelam sentimentos
causando apenas dor e sofrimento
aos que em vão tentam fazer sorrir

Fecho os olhos com a certeza de que perdi
Perco para tudo o que sempre lutei contra
Para o que tanto me dediquei a combater
Perco para a violência das palavras
Para a crueldade das marcas
Para os golpes dos braços
E as chicotadas das lágrimas

Sufocado, perco a reação
Fecho os olhos sabendo
Que não há pior forma de se matar
Do que se impor viver a cada dia
Neste mundo sem cores e sem gosto
Tentando sem sucesso segurar o vômito
A cada vez que a lança da memória
É contra mim de volta atirada

A lua perdeu seu lirismo
As canções estão caladas
Saio do quarto, volto pra sala
A cabeça roda e me ataca
a escrevo o que não devo
ao beber o que não posso
ao chorar o que não deveria
mas sinto

E eu sinto muito

1 comentários:

  1. Anônimo disse...
  2. Vivo a vida como me foi imposta, aceitando-a.Queria ter a sua coragem e mandar todos irem para PQP.

    Sufocado, perco a reação
    Fecho os olhos sabendo
    "Que não há pior forma de se matar
    Do que se impor viver a cada dia
    Neste mundo sem cores e sem gosto".

    Para algumas pessoas estes versos
    nada significam, mas para quem sente na pele, doí, e doí muito te ler Felipe.
    Admiro-te cada vez mais, grande beijo.

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