Licença poética tem limite

Conheço mulheres
que já nasceram gostosas.
São gostosas de tal maneira
que não há academia
que as deixem
mais formosas.
E olha que formosa
era um termo usado
por nossos avós para designar
uma mulher, oras, gostosa!

Esse gostosa que digo
não é algo depreciativo.
Pois quando olhamos para algo
e gostamos do que vemos
aquilo se torna algo gostoso
sem ser taxativo.

Pode ser advogada, economista
publicitária ou atriz.
Que seja cantora, jornalista,
empresária ou meretriz.
Pode ser mãe, pode ser noiva,
pode ser avulsa, pode ser esposa.
Desde que seja mulher
terá o título de gostosa.

Conheci certa vez
uma morena que se encaixava
em tudo o que queria para mim
Era boa não apenas de ver
mas também de acesso a ela ter.

Com toda sua incoerência
entre o que é dito e o que é feito.
Com todas suas inconstâncias
entre a aproximação causada
pelo vazio da solidão imposta
e a reclusa disfarçada de repulsa
causada pelo saco-cheio de tudo.
E de todos.

Ao menor sinal do elogio
seja físico ou existencial
lá vinha ela dizer que enganava bem
e que eu era suspeito.
Mesmo que no começo
eu tenha querido aquelas coxas
que morderia a contento,
o único crime que cometi
foi desejá-la com respeito.

E é por tudo isso
e por outros tantos paradoxos
que a faz uma mulher gostosa.
De se ver e de se manter.
De se ouvir e de se querer.

Não se faça de rogada
nem, portanto, se deprecie
Ao ouvir o meu "gostosa"
apenas agradeça e aprecie.