Saudades ou medo da realidade?

Já há muito tempo venho pensando sobre essa mania que as pessoas têm em sentir saudades de tudo: da época de escola, de um seriado antigo, de anos que já passaram...

Relembrar de fatos antigos com saudosismo é uma constante em todos os seres humanos. E, dependendo do grau, é até sadio reviver aquele show inesquecível, o primeiro beijo, o primeiro fora... mas fazer disso uma condição cotidiana de vida me soa como medo.

Medo de enfrentar a realidade e se amparar em tempos mais fáceis, quando não havia tanta responsabilidade. No fundo, isso é apenas uma muleta para que os erros cometidos sejam justificados de alguma maneira. Uma fuga que o inconsciente encontra para deixar o consciente menos culpado...

Como em todo processo de amadurecimento, somos expostos diariamente a questões que exigem postura madura e coerente, coisa impossível de haver em um adolescente de 15 anos, por exemplo. Por mais sensatez que ele tenha, a cabeça ainda não está pronta para lidar com isso. Consequentemente, tudo parece ser mais fácil.

Mas mesmo nessa fase, a saudade bate. Saudade do tempo em que não haviam espinhas no rosto e que levantar cedo não era um martírio. Saudade de quando brincar em uma enxurrada na calçada não atraia olhos questionadores.

Ter memória e não deixar o passado morrer é completamente diferente da tentativa, muitas vezes frutradas, de reviver a era encerrada. A realidade é outra, os interesses são outros. Pessoas mudam, graças ao Grande Fodão lá em cima. Àquelas que agem e pensam como colegiais ainda, restará a árdua e amarga tarefa de perceber que seguimos olhando para frente.

Acredito que pessoas que vivem eternamente pensando no tempo corrido são covardes ao ponto de não perceberem que não estão vivendo os dias atuais. Passarão os anos e não se lembrarão de nada que viveram hoje, pois estavam ocupadas demais tentanto resgatar o passado.

Em decorrência disso, sentirão saudades do tempo em que sentiam saudades.