Um verdade dita de maneira diferente

Era só que me faltava acontecer. Um cidadão acaba de tocar a campainha de casa. Atendo e vejo o sujeito carregando um saco plástico enorme nas costas e com uma cara de quem tomou, digamos, algumas doses de cachaça. Bota a sacola no chão e diz:

- O senhor tem um minuto pra me ouvir?

Respondo que sim, desde que seja só um minuto mesmo. Já estou acostumado a lidar com bêbados, afinal, são 12 anos trabalhando no bar com meu pai.

- Olha, eu só tô batendo aqui porquê eu tenho um problema, uma doença. E eu estou exterminando essa doença da minha vida. Mas, como toda doença, preciso fazer isso aos poucos.

Peço que pegue um atalho na conversa. Já conheço essa ladainha não é de hoje.

- Então, eu tenho uma doença séria, que é a doença da bebida. Bom, meu corpo tem essa doença. E como toda doença, preciso de tratamento. Eu não tô mentido, tenho até a receita aqui comigo.

Começo a rir. A história é velha, mas dita de forma diferente agora.

- Eu preciso tomar uma certa dose de cachaças por dia. Já tomei três de manhã e preciso de mais uma agora a tarde. Será que o senhor não poderia...

Digo que não tenho nada. Ele insiste.

- Nem cinquenta centavos pra me ajudar? Se eu fugir do tratamento, vou voltar pra essa vida de bebedeira. Eu poderia inventar que preciso de dinheiro pra passagem ou pra comprar remédio, mas estou sendo sincero com o senhor.

Chorando de rir, tiro uma moeda do bolso e entrego ao homem, que sorri com brilho nos olhos.

- Muito obrigado, senhor! Que Deus te ajude...

Mereceu pela originalidade da desculpa. Agora, nunca vi tratamento com doses homeopáticas de pinga. Essa é a primeira vez! Vivendo e aprendendo... mesmo!

É por isso que que curto bêbado!