Lamentável: veja o destaque dado a Limeira na região

Limeira, uma cidade acuada pelo tráfico
Fábio Gallacci/Agência Anhangüera

A cidade de Limeira — localizada a aproximadamente 50 quilômetros de Campinas — vive uma guerra silenciosa que vem ganhando força com a ajuda cada vez mais evidente de integrantes ligados à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Quatro pessoas, apontadas como traficantes de drogas, dividem todo o território do município com seus pontos de vendas. A disputa por espaço já causou mortes e a polícia luta para diminuir o domínio do medo que parece não ter fim. Um delegado ligado à área de combate ao comércio de entorpecentes, que pediu para não ter o seu nome revelado, afirma que o número de pessoas no crime é cada vez maior e que a situação não tem solução.

"Limeira é uma cidade problemática. O crime organizado se estruturou por aqui com diversos integrantes do PCC e o dinheiro do tráfico o sustenta. A maioria deles, felizmente, já está presa. Mas não temos como acabar com isso, podemos apenas administrar o problema", afirma o delegado.

Um dos quatro nomes apontados pelas autoridades locais como supostos líderes do tráfico em Limeira é o de José Rafael Pereira, de 30 anos, um ex-padeiro que fugiu do Centro de Detenção Provisória 2 (CDP-2), localizado no Complexo Campinas-Hortolândia, no último dia 1 de maio. Pereira tem fama de ser "sangue quente" e muito perigoso. "Ele é um traficante da pesada, terrível mesmo. Tenho certeza absoluta que ele faz parte do PCC. É chamado de 'irmão' pelos companheiros de cela", conta o delegado.

Os policiais da cidade contam que, quando foi novamente preso no último final de semana, em Araraquara, Pereira estava se preparando para participar de uma ação criminosa, possivelmente a mando do PCC. "Ele vestia um colete à prova de balas no momento da prisão", conta uma testemunha da ação.

De acordo com a polícia, Rafael é dono de vários pontos de tráfico no bairro Nossa Senhora das Dores. Boa parte de sua família está presa por participação na venda de drogas. Seu pai e sua irmã são alguns deles.

Os outros "chefões" da droga na cidade são apontados apenas pelos apelidos. A orientação de não dar nomes também partiu do delegado ouvido pela Agência Anhangüera de Notícias (AAN). Ele argumentou que a identificação completa dos bandidos traria grandes riscos.

Um dos bairros mais violentos da cidade, o Ernesto Khüll, é comandado por um homem conhecido como "Baiano". "O crime organizado não deixava a polícia entrar nesse bairro há alguns anos. Os bandidos distribuíam cestas básicas, remédios e roupas para a população carente", conta o delegado seccional Aparecido Capello. "Eles (os traficantes) faziam as vezes de juiz e delegado no local", acrescenta.

Na Vila Cavinato, os pontos de venda são controlados por "Morcegão", segundo as autoridades. No Jardim Santa Eulália, outro bairro marcado pela violência, quem comanda tudo é "Preto". No bairro Odécio Degan, o número de homicídios é preocupante. Muitas mortes são provocadas pela guerra dos entorpecentes, principalmente, a cocaína.

Na última quarta-feira, dia 17, uma menina de 12 anos e outra de 16, ambas de Campinas, foram presas em flagrante na Rodoviária de Limeira escondendo em uma bolsa seis quilos e 29 gramas de coca. As duas estavam prestes a voltar para a sua cidade quando foram detidas depois de uma denúncia anônima. O objetivo era repassar a droga na rodoviária campineira.

"Cada dia que passa, aumenta o número de usuários. Só tem oferta porque tem gente que procura. Este é o principal problema que enfrentamos" , comenta um integrante da Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes (Dise). Outra dificuldade é alcançar o ritmo das "bocas" (pontos de venda de drogas), passando de mãos em mãos conforme a necessidade. "Se você prende o gerente, logo aparece outro em seu lugar. Isso quando os parentes do preso não continuam tomando conta de tudo ou ele próprio se mantém na liderança de dentro do presídio, via celular", explica um policial.