Como conviver com as decepções?

Posted: | Por Felipe Voigt | Marcadores:
Como já disse, no primeiro post desse blog, acompanhei de perto o começo dos trabalhos legislativos em 2005. Assistia às sessões, passava duas ou três vezes por semana na Câmara só para saber o que estava acontecendo. Enfim, gostava mesmo de estar por perto. Em 2004, apesar de não acompanhar muito as sessões, fiquei mais próximo aos gabinetes e aos vereadores. Aprendi como funciona uma Câmara e para que servem, de fato, os vereadores. Ou pelos menos soube quais eram as funções que tinham de desempenhar.

E, como jornalista, acabei adotando uma postura mais "em cima do muro" no ano passado. Por ter passado dois anos sendo ácido com tudo e todos no Tiro & Queda [in memorian], resolvi deixar um pouco isso de lado. Afinal, não custava tentar entender o lado dos políticos, não? Bom, foi esse meu erro. Alguns colegas acabaram se afastando e dizendo que eu estava me vendendo, que "não era para ficar do lado deles". Mesmo assim, continuei pegando leve.

Um dos fatores que me levaram a querer "estar de bem" com nossos parlamentares se deve, em grande parte, pela simpatia que tinha pela atual presidenta, Elza Tank (PTB). Veja bem, eu disse tinha! No começo do ano passado, após uma série de conversar que vinham desde o final das eleições passadas, acabamos deixando algumas coisas pré-acertadas. Entre elas, estava a confecção de uma biografia sua. Havia proposto isso à ela, que se mostrou bastante empolgada. Revelou que já havia pensado nisso e que, a partir daquele momento, poderia cuidar dessa compilação de suas memórias.

Same old thing
Porém, uma série de eventos acabaram quebrando a admiração que tinha, substituindo-a por uma frustração irremediável. As palavras que antes eram ouvidas com atenção e prazer, passaram a soar como demagogia ultrapassada de quinta categoria. O olhar experiente passou a ser visto como egocentrismo desenfreado. O preconceito disfarçado de vanguardismo se revelou em poucas palavras. A vontade de aparecer se disfarçou de assistencialismo barato.

Você me pergunta: qual motivo para tamanha decepção? Prefiro não entrar em detalhes profundos, limitando-me apenas dizer que afirmações verbais não têm valor algum. O fio do bigode deixou de existir há tempos. Eu já sabia disso, mas precisei vivenciar para ter a certeza de que não há como acreditar muito em políticos.

O que causa mais estranheza é que a quebra na admiração foi recíproca. Alguns conhecidos em comum confidenciavam-me que a presidenta tinha uma simpatia grande por mim. Até mesmo os mais próximos a ela estranhavam tal simpatia, já que meu nome era defendido em conversas reservadas no Legislativo. Ficava grato em saber disso. Mas, na política, nada é como aparenta ser.

Para se ter uma idéia, minha última conversa com a presidenta foi em março de 2005. Não por omissão minha, mas por fatores desconhecidos até hoje por mim. Enquanto antes bastava eu chegar a sua sala que era prontamente atendido, depois ficou um jogo de ping-pong miserável. Ligava, agendava entrevistas pessoalmente e nada de ser atendido. Horas foram perdidas, esperando por um atendimento.

Assim, as semanas foram passado, os tropeços da Casa aparecendo e, consequentemente, um certo alívio acabou tomando conta de mim. Alívio por não fazer parte desse time, alívio por não ter de ficar me justificando por erros de terceiros. Nomeações irregulares, nepotismo, malas pretas, subserviência ao Executivo... tudo isso não seria meu cotidiano!

Casos
Umas das razões dessa experiência malfadada tem como protagonista o Partido dos Trabalhadores. Nunca fui simpatizante com os vermelhos e muito menos com suas convicções políticas e ideais. Mesmo assim, não me impediu de fazer amigos entre os chamados "de esquerda". E isso nunca foi motivo para deixar de conversar com esse ou aquele petista ou parar de frequentar esse ou aquele gabinete. Pelo contrário: já cheguei a entregar projetos para os vereadores petistas apresentarem. Sempre deixando claro que não gostava do PT. Fui respeitado por isso, assim como os respeitei por aceitarem meu posicionamento.

Mas, em se tratando de Elza Tank, essa postura não é bem aceita. Logo ela, que deveria saber como é importante sabermos deixar de lado algumas intrigas de lado para podermos fazer política, ignorou a democracia e passou a atacar a todos aqueles que estivem, na sua percepção, ao lado do PT. Com isso, eu passei de mocinho para bandido. Tudo porque não quis ser hipócrita em deixar de conversar com os petistas dentro da Câmara.

Outro fato foram as companhias dee colegas de profissão da chamada mídia alternativa. Enquanto um grupo fazia o seu dever, que era cobrar providências da presidência com relação aos erros cometidos, eu apenas os acompanhava nas conversas de bastidores. E, em muitas oportunidades, sequer falávamos sobre política. Mas, para os olhos que tudo vê dentro da Câmara, isso soava como conspiração. Mais uma vez, eu estava entre os alvos.

Por fim, chegamos ao primeiro escalão do Legislativo. Mesmo não tendo feito nada contra determinadas pessoas, havia aquele clima de desconfiança sobre mim. O time dos que ganham mais de R$ 4 mil por mês parecia não querer muito minha preesença. O motivo? Os mesmos relatados acima. Devo destacar a influência corpo-a-corpo do
"Ademir da Guia" limeirense. Mesmo me tratando bem até hoje, seu trabalho nos bastidores era para que eu não fizesse parte da equipe, por assim dizer. Talvez por saber que nunca aceitaria sua exigência de co-participação salarial. Se há pessoas que se submetem a isso, que assumam o ônus por isso.

Conclusão
Hoje vejo que o melhor acabou acontecendo. Há exatamente um ano estou como responsável por um jornal da vizinha Cordeirópolis e continuo lidando com política e políticos. E vejo que, de certa forma, esses colegas acabaram acertando quando disseram: "cuidado, nunca confie em político". Se estivesse continuado com minhas pretensões, talvez estaria ainda mais decepcionado.

Hoje vejo que posso continuar a me interessar - dentro do possível, né? - pela política limeirense sem me machucar. E sem ter piedade por aqueles que exercem seu cargo público. Não adianta querer se passar por injustiçado, dizendo que a imprensa não ajuda. Quando assumiram o desafio de chegar a cadeira que tanto almejaram, sabiam que seriam cobrados por toda e qualquer ação cometida. E nada mais justo. Afinal, são pagos com dinheiro público. São nossos funcionários, precisam prestar conta de tudo para nós, apesar de não cumprirem suas determinações constitucionais.

Hoje vejo que tudo o que está acontecendo aos nobres parlamentares não é por acaso. O plantio foi feito. A safra chegou. É hora de colher!

Hoje eu vejo.

4 comentários:

  1. Joao Leonardi disse...
  2. postei uma chamada com link no "olhovivo" para esse texto. Um abraço. João Leonardi

  3. Anônimo disse...
  4. Pois é Felipe, se não há mais como confiar nem no "fio de bigode", imagina então confiar em quem nem bigode tem. Se é que me entende...

  5. Anônimo disse...
  6. Felipe...sei que não gozo de muito prestigio em certos setores da mídia que me acham igual ou pior que os outros...Mas, como cada um sabe o que se passa dentro do seu coração e da sua mente, devo dizer que, além de entender perfeitamente tudo que você relatou, até me emocionei ao me ver em vários trechos do texto. Parabéns. Marcos Camargo.

  7. Anônimo disse...
  8. Caro amigo Felipe, não se decepcione facilmente assim! Apenas seja realista. Temos que lidar com os políticos da forma que eles fazem por merecer. Quanto à presidente da Câmara, vereadora Elza Tank, posso dizer que ela consegue decepcionar desde que entrou para a política. Basta ver seu histórico como vereadora e deputada. Nada a acrescentar ou a diminuir. Muito pelo contrário. Desde sua postura no caso da Concessão do SAAE até a última votação que teve na dobradinha com Jurandyr Paixão, na disputa à Assembléia Legislativa do Estado, seu eleitorado continua o mesmo. E, daqui para a frente, só tende a diminuir. Quem viver, verá!

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